segunda-feira, 13 de julho de 2015

MINHA ESPIRITUALIDADE

Minha espiritualidade não está vinculada a nenhuma religião, tradição espiritual, seita ou escola filosófica ou psicológica.

Minha espiritualidade não está vinculada a nenhum Mestre, Guru, Guia ou Santo em especial.

Minha espiritualidade não está vinculada a nenhum ritual ou cerimônia religiosa.

Minha espiritualidade não privilegia nenhuma cultura, escritura sagrada nem nenhum tipo de musica sagrada em especial.

Minha espiritualidade não está vinculada a roupas, adereços, símbolos e objetos religiosos de nenhuma cultura.

Minha espiritualidade também não critica, não julga e nem discrimina quem está vinculado ao que citei acima.

Minha espiritualidade aceita e respeita como verdadeiras e sagradas todas as culturas, todas as religiões, tradições, Mestres, Gurus, escrituras sagradas, rituais e cerimônias

Minha espiritualidade é a da pessoa comum, simples e humana, que como filha do Universo caminha nesta Terra rumo a Si.


ERNANI FORNARI
SOBRE SER MARKETEIRO

Eventualmente sou chamado de marketeiro (de uma forma pejorativa) e isso me levou a compartilhar estas reflexões.

Provavelmente sou chamado de marketeiro – como se isso fosse feio ou errado - porque tenho sites, blogs, escrevo, faço vídeos, tenho canal no YouTube, edito livros, gravo CDs, e estou muito presente nas redes sociais.

A palavra marketeiro ganhou esta conotação depreciativa em função dos marketeiros das campanhas eleitorais.

Mas a rigor, marketeiro é quem faz marketing, ou seja, propaganda e divulgação de alguma coisa ou de alguém.

E na nossa sociedade ainda vigora a máxima que “a propaganda é a alma do negócio”.

Não acho que seja a “alma”, mas eu diria que é um dos principais motores que alavancam um negócio ou uma carreira.

Em uma primeira análise sobre o peso negativo que dão ao termo, eu vejo que há dentro disso algumas confusões feitas pela nossa cultura, ou mais propriamente pela religião vigente na nossa cultura, que, entre outras coisas, misturaram o conceito de auto valor com o de vaidade.

E também uma certa herança hippie e de esquerda que confunde a prosperidade material com riqueza burguesa e capitalista, e que consequentemente confunde também simplicidade com pobreza.

Vender bem – e honestamente - sua imagem ou seu produto está longe de ser vaidade.

Vaidade é quando se começa a competir, a querer ser melhor, e esta com certeza é a semente do capitalismo selvagem.

Vender-se bem e cobrar sem pudores e constrangimentos pelo seu trabalho, não é necessariamente vaidade ou doença capitalista. É antes de mais nada, auto valor (e consequentemente demonstrativo de eficiência e de competência).

É o valor que você deve dar a sua inteligência, ao seu esforço, ao tempo, neurônios e dinheiro que gastou para conquistar seu saber e seu espaço, em suma, é o valor que você dá ao seu trabalho e ao produto oriundo dele.

Isso que dizer que se você tem pudor em cobrar pelo seu trabalho e tem pudor de divulga-lo bem é porque seu auto valor deve estar baixo.

Numa época em que se pode fazer um bom marketing gratuito – através de sites, blogs, maillists, redes sociais, canais de video – e um bom marketing pago – folders, flyers, cartazes, anúncios na mídia - tudo o que se precisa é de estratégia e planejamento, e claro, auto valor para poder colocar o motor do seu marketing para funcionar.

Quando se entende que no Universo só funciona a “lei do ganha-ganha” (ao contrário do capitalismo que se constrói no “ganha-perde”), não é preciso mais se preocupar com concorrência nem com investir em competição, pois neste Universo todos sempre ganham. Mesmo quando perdem.

Então, terapeutas e demais profissionais autônomos, percam a vergonha cultural e religiosa, deixem os invejosos falarem (pois é a inveja que os move a te criticar) e faça um bom marketing do seu trabalho e da sua pessoa.

Venda seu produto e sua imagem sem medo de parecer egóico ou vaidoso.

Sua honestidade e sua ética são a salvaguarda contra estas armadilhas.

Você é a alma do seu negócio e a propaganda é o motor que o impulsiona.


ERNANI FORNARI
 A FORMA DE COMER PODE MUDAR O MUNDO?

I.               Esta semana conversando com um velho amigo, dinossauro do movimento alternativo brasileiro como eu, me ocorreram algumas reflexões.

“No meu tempo” – anos 70 e 80 – a alimentação alternativa da época era a macrobiótica, que ao contrário da alimentação viva e vegana que é a top atualmente, preconizava uma alimentação quase que totalmente cozida e à base de cereais.

E muitas curas aconteceram com esta forma de alimentação.

E da mesma forma que acontece hoje com as novas gerações alternativas, acreditávamos ingenuamente que mudando a comida mudaria a consciência, e mais ingenuamente ainda acreditávamos que mudando a forma de comer mudaríamos o mundo.

E muitos de nós foram bastante xiitas, fundamentalistas e messiânicos, como muitos da alimentação viva e vegana hoje o são, acreditando infantilmente nas mesmas coisas que acreditávamos.

E infantilmente ficávamos julgando e dividindo a humanidade entre os certos e os errados, entre os sagrados e os profanos, entre os conscientes e os caretas, baseados no que comiam, vestiam  onde viviam.

Estávamos errados? A galera jovem de hoje está errada? Claro que não!

É característica marcante da juventude querer mudar o mundo, e é fundamental que seja assim, pois os jovens estão no pico da energia, do poder de fogo de agir e da disponibilidade integral de abraçar causas.

E é este poder de agir geralmente meio quixotesco que acaba promovendo os movimentos coletivos e promovendo as mudanças que são possíveis (e não necessariamente as que estas pessoas desejam, e da forma e no tempo que desejam).

Quando estes jovens amadurecem e não se estagnam nem viram caretas, adquirem a sabedoria de perceberem e entenderem (e aceitarem) a complexidade e a sutileza inerentes ao exercício de viver, e aprendem que as questões fundamentais da existência passam muito longe das soluções filosóficas e ideológicas focadas em propostas externas.

A maturidade aprende que o externo não pode mudar o interno.

Entende que o interno transformado é que pode transformar o externo.

E não são meios externos que podem mudar o interno. Nem comida, nem tipo de roupa, nem tipo de musica, nem o lugar onde se vive.

Comer corretamente, vestir roupa de tal cor ou jeito, só ouvir musica espiritual, morar no campo, nada disso garante um ser humano equilibrado e harmônico.

Tudo isso pode ajudar como eventuais coadjuvantes. Não como fatores determinantes.

Se toda a população mundial de repente passasse a se alimentar de forma viva e vegana mas não trabalhasse profundamente suas questões internas, suas velhas memórias e registros, seus velhos padrões e crenças vindos da gestação, da infância, da adolescência, das vidas passadas e da ancestralidade, seus medos, raivas, tristezas, defeitos, falhas e imperfeições humanas e as suas questões mal resolvidas com os pais e com a prosperidade – coisas que comida por melhor que seja, não tem como transformar – provavelmente pode até ser que melhorasse a qualidade do ar, da água, do solo, dos animais e da natureza em geral, mas continuaria sendo o mesmo velho ser humano que mais cedo ou mais tarde iria produzir desequilíbrio e desarmonia em algum lugar e de alguma forma.

Para mim hoje - e isso é uma opinião estritamente pessoal - o que muda dentro é meditação e terapia. Aí talvez como um ser humano transformado e equilibrado eu tenha condições de viver em um mundo idealizado sem desequilibra-lo.

II.            Eu sou ovo-lacto-vegetariano.

E o sou não exatamente motivado pela violência contra os animais que o consumo de carne acarreta. Quanto á isso tenho minhas próprias opiniões que não vem ao caso aqui agora.

Quero aqui apenas manifestar minha estranheza quanto à incoerência que percebo quando vejo pessoas ovo-lacto-vegetarianas e lacto-vegetarianas bradarem panfletáriamente  contra a crueldade a que o consumo de carne acarreta aos animais.

Ok, concordo. Mas não me parece que os matadouros são os únicos locais onde é gerado o sofrimento animal.

Para produção de ovos e de laticínios muita manipulação e crueldade também é produzida.

A incoerência dos lacto-vegetarianos (que em geral tem um componente de um certo fanatismo religioso) me parece ainda maior, porque se por um lado ovos fecundados são pintinhos em potencial e ovos estéreis são menstruação galinácea, por outro lado para uma vaca dar leite precisa procriar, ou seja, se a cria nascida é bezerro macho vai para o abate, e quando a vaca declina em sua capacidade produtiva também vai para a degola.

Isso sem falar: que leite é alimento para lactantes e leite de vaca é para lactante bovino, que os hormônios e antibióticos presentes na rações estimulam a que aves e bovinos produzam muito mais ovos e leite do que seria natural segundo sua fisiologia, e isso sem falar também nas condições geralmente cruéis com que aves e bovinos são criados privados de sua liberdade e forçados a produzir como se fossem fábricas.

Então me parece que os únicos coerentes e realmente imbuídos de verdade em sua doutrinação vegetariana contra a crueldade animal são os vegans.

Essa mania que ser humano tem de pregar, de querer convencer e esfregar na cara do outro as suas verdades como se Deus o tivesse imbuído de alguma missão divina que o faz se sentir mais certo e mais bacana do que aquele que não segue as suas convicções.

Gente, a existência é muito mais complexa, desconhecida e imprevisível do que nos parece. A vida é um fenômeno multidimensional e sistêmico muito mais amplo e profundo do que as nossas mesquinhas e pobres avaliações de certo e errado e bem e mal podem imaginar e alcançar.

Vamos ser mais humildes e deixar que o outro seja o outro, parando de encher o saco do próximo com nossas certezas e julgamentos.

Não há nada errado acontecendo no planeta. Deus não errou nem se esqueceu de nós. 

Nem nós temos um livre arbrítrio tão enorme e poderoso que nos facultou destruir tudo à revelia da Inteligência Maior.

Pensa nisso.

III.           Depois das recentes pesquisas e descobertas em relação ao que poderíamos chamar de inteligência e sensibilidade dos vegetais – se bem que nem tão recentes assim pois o livro “A vida secreta das plantas” nos anos 70 já provava muita coisa - o argumento dos vegetarianos em geral (lactos, ovo-lactos e veganos) de que não devemos comer carne em função da crueldade e da morte a que submetem os animais, deveria ser repensada.

As plantas sentem e tem inteligência. Ponto. Não como um ser humano ou como um animal, claro, pois não são seres humanos nem animais, mas como seres vivos participantes da Grande Inteligencia Universal.

Por outro lado, é só, por exemplo, assistir Discovery ou National Geografic para perceber que na natureza vigora a lei do mais forte, vigora a lei do um come o outro, da cadeia alimentar.

Deveríamos então acusar uma leoa de cruel por estraçalhar “sem piedade” uma gazela? 

Ou acusar o gato de sádico por “brincar” e “torturar” um ratinho antes de mata-lo?

Será que a condição “superior” do homem autoriza-o a manipular, produzir em série e abater apenas os vegetais?

Então talvez o mais inteligente e coerente seria calcar a argumentação vegetariana na fisiologia humana e não em uma moral e ética discutível e sentimentalista.

O fato é que da mesma forma que a fisiologia dos carnívoros os habilita a matar e comer outros animais, a fisiologia do homem habilita-o a matar e comer vegetais.

O homem não é carnívoro nem tampouco onívoro. O homem é frugívoro.

E isto é zoológico e fisiológico.

Ou vamos calcar a argumentação vegetariana no fato de que o consumo da carne é uma das principais causas do desequilíbrio ambiental planetário, pois quanto a isso também existem muitas consistentes provas.

Então vamos nos alimentar do que nos cabe – os vegetais - sem precisarmos ter pudores com a morte, que é um fenômeno natural inerente à vida.

Nem o homem é superior aos outros seres vivos nem a morte é algo negativo.

A vida se alimenta da morte e a morte se alimenta da vida.

E isto é o equilíbrio ecológico.

ERNANI FORNARI
 




sexta-feira, 26 de junho de 2015

A CULPA DO NEPAL

Logo em seguida a terrível tragédia que se abateu sobre o Nepal destruindo um rico patrimônio histórico, religioso e cultural e tirando a vida de milhares de pessoas, várias teorias rapidamente apareceram para explicar as origens e os motivos do sinistro evento.

E foram basicamente duas vertentes de teorias: Uma, as esotéricas (na minha opinião pseudo esotéricas) que atribuíam um “castigo divino” não só pelo fato dos nepaleses matarem búfalos para comer e até pelas escaladas no Everest.

Outra, as explicações meramente geológicas e ambientais ou seja, que os sérios desequilíbrios ecológicos mundiais estão produzindo efeitos catastróficos em vários locais do planeta.

E fico eu aqui tentando cruzar as duas possibilidades dentro daquilo que acredito e que penso que leituras mais sérias dentro da espiritualidade e das terapias podem oferecer.

Quanto a primeira possibilidade, honestamente não acredito mais em castigo divino, azar, culpa, sabotagem de Satanás, luta cósmica do bem contra o mal, essas coisas.

Nem acredito que a Lei do Karma seja como foi entendida e absorvida pelo mundo ocidental, ou seja, que é uma espécie de Lei de Newton que funciona na base do “bateu – levou”. Ou pior, que é sinônimo de azar (“que karma, heim?”).

Acredito na perspectiva que modernamente chamamos de holística e sistêmica, que é a perspectiva que tem sido desenvolvida há milênios pelas culturas orientais e nativas, isto é, que a Criação é uma grande teia holográfica consciente e inteligente, e totalmente interligada, interdependente e interagente.

Aí talvez a Lei do Karma seja uma lei de causa e efeito multidimensional (e não cartesiana e mecanicista como ficou entendida por aqui) que atua promovendo a homeostase inteligente do Universo.

Não acredito nem compartilho mais do olhar maniqueísta (e simplista) que estabelece vítimas e culpados.

Acredito, já que a existência é um organismo auto-regulador, que tudo o que acontece na vida tem uma função evolutiva e é estabelecido em função de um comum acordo entre todos os envolvidos nos eventos.

 Claro, seria um loucura pensar que as vitimas da catástrofe no Nepal toparam conscientemente passar por isso.

Seria loucura sim, mas dentro de um olhar estritamente científico ou a partir de um olhar das religiões ocidentais centradas na culpa e no pecado.
De fato, foi um evento terrível que produziu milhares de vítimas, entre mortos e feridos, e muita destruição.
Mas este olhar é apenas um olhar que enxerga a superfície, que enxerga apenas os efeitos visíveis.

Claro que o evento deve ter acontecido em função ou de causas que são características geológicas naturais daquele local ou que foram precipitadas em função dos desequilíbrios ambientais globais.

E isso também, na minha opinião, é apenas uma outra leitura superficial, que enxerga apenas as causas físicas.

Considerando e amarrando tudo isso e tentando descaracterizar as perspectivas de castigo divino e de azar ou acaso, tento inserir aqui as ideias que coloquei acima.

Não para tentar entender e julgar, pois a mecânica e a fisiologia auto reguladora universal estão totalmente fora do nosso entendimento e controle dada sua extrema complexidade constitucional e operacional, mas para abrir um novo olhar para outras possibilidades que acalmem um pouco os nossos corações e as nossas mentes.

Já que não nos é possível entender e explicar o que aconteceu, fica aqui a possibilidade de que o que ocorreu foi uma terrível tragédia sim, provavelmente oriunda dos descaminhos ambientais que o homem tem ajudado a produzir na Terra sim, mas de forma nenhuma sem uma causa sistêmica maior (e extremamente complexa), que não passa por azar e castigo, e sim, por um movimento kármico inteligente e auto regulador, onde, em algum nível, todos são co-criadores e co-participantes, e com certeza, com uma profunda função evolutiva humana e planetária.


ERNANI FORNARI
SOBRE O TRABALHO : SER, FAZER OU TER?

Somos realmente uma sociedade “trabalhólatra”.

É impressionante como tanto nos sistemas capitalistas quanto nos regimes comunistas/socialistas o trabalho é um termômetro e um parâmetro que determina e estabelece a importância e a qualidade do ser humano, individual e coletivamente.

E não tenho como não me lembrar do meu querido e saudoso amigo e terapeuta Alex Fausti que dizia que somos uma sociedade escrava e refém do FAZER, porque o nosso valor é medido pelo que fazemos e produzimos, e não pelo que somos.

Me lembro bem de quando, em uma sessão de terapia, ele traçou em um papel três círculos concêntricos, dizendo que no centro estava o SER, no circulo seguinte o FAZER e no mais externo, o TER.

E dizia que deveríamos ter nosso eixo estabelecido no SER, e assim transitarmos livremente (e conscientemente) pelo FAZER e pelo TER.

Mas por algum motivo, deslocamos este eixo para o FAZER, e a partir daí temos referenciado a nossa vida e a qualidade dela na qualidade e na quantidade do que fazemos.

O mais terrível, é que este eixo vem se deslocando para o TER, que é tudo o que o sistema capitalista globalizado com seus marketings e merchandisings deseja, ou seja, que passemos a pensar e a sentir que só somos quando temos.

E lembro também do precioso “dever de casa” que ele me passou quando eu era seu cliente, que era separar algum momento do dia ou da semana para treinar SER,ou seja, para “não fazer nada”.

Eu deveria deitar numa rede, por exemplo, e num primeiro momento perceber os movimentos da minha mente incomodada (e eventualmente culpada e entediada) por não estar fazendo nada.

Num segundo momento, deveria tentar esvaziar esta mente crítica e julgadora e me entregar totalmente ao prazer do momento presente.

Nessa esteira, lembro também de outra pessoa muito importante na minha vida, um swami indiano também falecido chamado Swami Tilak, que achava surreal como nós não sabíamos estar inteiros no que fazíamos e também quando não fazíamos nada.

Ele dizia que nós trabalhávamos pensando nas férias e tirávamos férias pensando no trabalho...

Claro que não estou fazendo aqui a apologia da vagabundagem, mas hoje já consigo entrar na perspectiva do ócio criativo, do não fazer pleno.

Trabalhar – profissionalmente falando - é importante, é fundamental, porque nele expressamos nossos talentos, potenciais, capacidades e vocações, podendo assim não só contribuir para a sociedade presente e futura, como também receber a remuneração financeira que nos permite (pelo menos deveria permitir) sobreviver e desenvolver uma vida próspera, saudável e rica em experiências.

Poderiamos aqui então fazer o exercício de estender a concepção de trabalho para praticamente tudo na vida: por exemplo, meditar e fazer terapia é fazer trabalho interno, ler e estudar é fazer trabalho intelectual, fazer exercícios e ter uma boa alimentação é trabalhar nosso corpo, fazer caridade e serviço social é trabalhar pelo próximo necessitado, e por aí vai.

E aí poderíamos dizer que tudo na vida é trabalho, não é?

E num segundo momento deveríamos entender que tudo deve ter um equilíbrio e uma harmonia para ser saudável e promover real crescimento e expansão.

Ou seja, tudo em excesso é prejudicial. Seja trabalho profissional, sexo, comida, computador, exercícios físicos,etc.

Tanto que hoje existem instituições tipo AA (Alcoólicos Anônimos) para tudo isso que citei acima, pois existem pessoas que são workaholics, sexólatras, comedores compulsivos, malhadores compulsivos, usuários compulsivos de informática e vídeo game, só para citar alguns.

Então vamos tentar ressignificar a importância do FAZER (e do TER) na nossa vida, que só se super dimensiona quando a consciência do SER está sub dimensionada em nós, e aí o FAZER e o TER vão tentar compensar esta sensação de vazio e de falta.

Só que o FAZER e o TER são como uma droga, isto é, são insaciáveis, pois o complexo 5 sentidos/mente/ego quando imersos na carência e na sensação de falta, é insaciável e vai tentar através do FAZER e do TER anestesiar a dor e a angústia da sensação de não SER.
E esta dor e angústia de não SER vão aparecer na superfície como dor e angústia por não FAZER e por não TER.

Vamos então (re) aprender a só SER?


ERNANI FORNARI
SOBRE A HUMILDADE TERAPÊUTICA E RELIGIOSA
  
    Na minha opinião, absolutamente nenhuma religião, linha de psicologia ou de terapia, tradição espiritual, técnica de cura ou escola de filosofia, pode ser boa para todos, para tudo, o tempo todo.

   O que quer dizer que, na minha opinião, qualquer religião ou tradição espiritual, linha de psicologia ou técnica de cura vai - em algum momento, em alguma circunstância e contexto, e para algum caso ou para alguma pessoa - ter contra indicações e/ou efeitos colaterais.

    Penso que em um universo onde a relatividade é sua característica inerente e constitucional, é impossível qualquer coisa existente ter um valor absoluto.

    E nesta realidade relativa e dual, qualquer coisa pode ser boa ou ruim, certa ou errada, negativa ou positiva, adequada ou inadequada, dependendo em um complexo conjunto de fatores.

    Então... talvez seja interessante que terapeutas, curadores, psicólogos e lideres espirituais tenham a humildade (e a coragem) de reconhecer os limites do caminho que disponibilizam e facilitam para o outro, e que eventualmente recomendem outros tipo de terapias ou de caminhos de cura para seus clientes, pacientes e/ou discípulos.

    Só acredito na sinergia, não acredito em competição nem em “choque de egrégoras”.

     Claro que existem maluquices misturebas picaretas e irresponsáveis por aí, mas acredito que são minorias.

     Mas o que tenho percebido – infelizmente também ainda em minoria - são terapeutas e curadores abertos e responsáveis (e corajosos) que - modéstia à parte, como nós - eventualmente recomendam que seus clientes procurem outras terapias e caminhos de cura mais adequados àquele caso ou àquele momento.

      Não acreditamos (e não nos importamos) em “perder clientes” pois segurar um cliente em uma terapia que não está evoluindo, quem sempre perde é o cliente.

     Assim como os seguidores de religiões não perdem nada quando reconhecem que o caminho que estão trilhando já não oferece alimento integral para suas demandas humanas e espirituais, e resolvem migrar para outra religião ou tradição.

    Ou assim como quando os seguidores de religiões entendem humildemente que às vezes é preciso recorrer paralelamente a outros caminhos – como por exemplo, fazer terapia – para otimizar seu caminho evolutivo.

    E isto em nada macula ou trai sua religião nem tampouco passa um atestado de ineficiência para o caminho espiritual que escolheu trilhar.

   Assim como quando um terapeuta recomenda a seu cliente outro tipo de terapia, não está atestando que sua técnica é ineficiente ou inferior.

ERNANI FORNARI


       
SOBRE A INTOLERÂNCIA RELIGIOSA

( ou COMPREENDER, CONCORDAR E RESPEITAR)

Eu tive um professor que dizia que a humanidade é como um bolo onde Deus é aquele furo no centro do bolo e cada religião seria um fatia do bolo.
O problema é que fica cada fatia querendo convencer o resto do bolo de que ela, fatia, é o bolo inteiro. Interessante como o ser humano há milênios vem guerreando e se degladiando ferrenhamente pelo que não concorda - que em termos de religião, cá entre nós são os aspectos mais desimportantes, isto é, o nome do meu Deus, minha concepção Dele, meu livro sagrado é tal e é o único verdadeiro, meu mestre ou avatar é tal e é o único e o melhor, e por aí vai.
Curiosa essa tendência do homem de investir pesado na exclusão, na divisão.
Talvez a chave para essa cura não seja nem ter religião nenhuma nem ter uma só religião para todos - acho as duas possibilidades fantasiosas - mas sim o simples e vital fato de pessoas de uma religião conseguirem perceber e aceitar que as outras também são tão verdadeiras e certas quanto a sua.
Muito doida essa mania de se querer ter exclusividade.
Se Deus criou a diversidade, um planeta com bilhões de espécies de todos os reinos, um monte de raças e culturas com milhares de idiomas e características históricas, geográficas, sociológicas e antropológicas diversas, é totalmente irracional e bastante pouco inteligente achar que uma só religião vai servir para todos, e mais irracional ainda é querer estabelecer isso na marra...
Por outro lado cresce cada vez mais a compreensão de que é muito mais bonito, pacífico e inteligente os diversos caminhos compartilharem naquilo que concordam, e não ficar brigando pelo que discordam.
E se tirar o desimportante e o superficial das religiões (que é aonde as pessoas mais se apegam), todas elas concordam muito mais do que discordam, pois o Deus de todas é o mesmo e os princípios mais básicos e fundamentais também.
Dentro dessa temática, me parece que três componentes são fundamentais serem devidamente destrinchados para serem corretamente entendidos:

Compreensão, aceitação (vou chamar aqui de aceitação o ato de concordar) e respeito.

Para verdadeiramente se respeitar – e vamos nos ater aqui ao tema religião – não é preciso concordar, mas é preciso compreender.

Compreensão é entender o ponto de vista do outro, é entender as características, as motivações, os contextos e os referenciais do outro.

Quando avaliamos uma outra religião ou uma outra cultura usando como parâmetro os nossos próprios referenciais, o que estamos exercitando é julgamento, o que normalmente acaba descambando em crítica e condenação.

Para compreender o outro é necessário, como dizem os índios norte-americanos, vestir o mocassim do outro.

É preciso considerar, como disse acima, o universo do outro com seus contextos e características próprias, como um cientista que busca conhecer o que está analisando, com neutralidade e isenção.

Respeitar sem compreender não é respeitar. É tolerar, no pior sentido do termo. É engolir, aturar, suportar.

Respeitar não é necessariamente concordar. Respeitar é reconhecer valor no outro.
E eu só posso reconhecer valor quando eu compreendo.

Talvez o ser humano precise desenvolver a habilidade de compreender mesmo não concordando.

Daí talvez surja o verdadeiro respeito.

ERNANI FORNARI


A PROSTITUTA, O LADRÃO, O VAMPIRO, O ESCRAVO E O MENDIGO
(Qual destas personas você usa mais para tentar ser feliz?)

Como um dos principais efeitos psico-emocionais nocivos oriundos dessa nossa cultura cristã-ocidental onde aprendemos que somos pecadores e culpados de nascença, e que precisamos trabalhar muito para construir um ser humano digno de ser aceito por Deus no Paraíso – e levando-se em conta o pesado componente dificultador que é o fato de que há um Satanás “fungando no seu cangote” a espreita constante para melar este projeto - está a “lógica” inconsciente que infere que “se eu congenitamente não sou e nem tenho, preciso buscar isso (o ser e o ter) fora de mim”.

Esta forma de pensar e de lidar com a vida é bastante diferente, por exemplo, do pensamento oriental onde o ser humano, que muito ao contrário de ser um nada e um ninguém congênito, é criado perfeito, eternamente livre e pleno, padecendo apenas da ignorância temporária deste fato, devendo portanto dedicar sua vida à despertar e realizar em si esta plenitude e liberdade eterna sempre existente.

Muito diferente - em todos os sentidos - de se ter sido criado pecador e culpado.

Isto desenvolveu na mente coletiva da nossa cultura uma baixa auto-estima e uma menos-valia enorme – interessante apenas para quem pretendia exercer dominação - onde o desconhecimento de que somos apenas ignorantes da nossa natureza real, e não deficientes humanos e espirituais, fez com que fossemos desesperadamente buscar fora de nós o que já tínhamos dentro e não sabíamos.

Nosso amor, nosso poder pessoal, nossa alegria, nossa coragem, nosso tesão de viver e criar, e todas as virtudes, qualidades e potenciais existem inerentemente no ser humano desde sempre.

Ninguém pode roubar de nós nem nós podemos perder esse patrimônio constitucional eterno que trazemos em nossa essência humana e espiritual.

Mas podemos perfeitamente ignorar – e consequentemente sub dimensionar e subutilizar - tudo isso, como de fato o temos feito há 2000 anos pelo menos, e passar a nos considerar e viver como seres que Deus não terminou de fazer.

E aí vivemos como eunucos.

E precisamos sair por aí ancorando nossos buracos internos, nossas carências, nossos medos e fragilidades aonde podemos.

Na família, no casamento, nas amizades, no trabalho, no dinheiro, no poder, nos objetos.
Frequentemente recebemos no consultório pessoas que de repente se sentem no vácuo, que tem seu “tapete puxado”, que ficam sem chão, porque os filhos saíram de casa, ou porque se separaram ou enviuvaram, ou porque foram demitidos ou se aposentaram, ou porque roubaram o seu carro, e por aí vai.

Trabalho, objetos e relacionamentos tem função específica na vida.

Trabalho é o veículo para expressarmos nosso potencial e talentos, contribuir para o presente, deixar um legado para o futuro e receber remuneração e reconhecimento por isso. Objetos são para nos servir como ferramentas facilitadoras do viver. E relacionamentos são para reproduzir, trocar afeto e vivências evolutivas.

Mas em nosso desespero existencial acabamos extrapolando e ancorando nestas coisas e/ou pessoas muito mais do que seria saudável, e porque não dizer, inteligente.

E é claro que jogar âncoras em terreno transitório e impermanente, como é tudo isso aí que eu citei acima, é como “crônica de uma morte anunciada”, ou seja, é estratégia fadada a naufragar assim que o objeto do ancoramento desaparece do mapa por algum motivo.

E para jogar estas âncoras, ou em outras palavras, para prender os meus tentáculos carentes e famintos, eu acabo me utilizando de certos personagens míticos internos, de pequenos arquétipos funcionais que aqui, a titulo de exercício e reflexão, eu chamei de “a prostituta, o ladrão, o vampiro, o escravo e o mendigo”.

São atitudes estratégicas funcionais das quais vou lançar mão para tentar obter e manter aquilo – segurança, auto-estima, amor próprio, poder pessoal, alegria de viver, reconhecimento, respeito, etc. etc. - que não aprendi que eu deveria era estar trabalhando para manifestar de dentro de mim.

É claro que o outro é importante. É fundamental.

Mas não para nos dar o que pensamos que não temos, ou nos fazer sentir ser o que pensamos que não somos.

Nem os Seres de Luz como os Gurus, Anjos, Orixás, Devas hindus ou os Santos, podem nos dar o que já temos ou nos tornar o que já somos.

A função destes Seres é nos ajudar a perceber e realizar que já somos quem nós buscamos ser, e que já estamos no lugar para onde estamos nos dirigindo.

E a função do outro - além de fazer o espelhamento necessário para que eu, através da conexão e do relacionamento com ele, e através da sincronicidade e da ressonância que fomentam e permeiam estas conexões e relacionamentos, acesse material inconsciente ainda em sofrimento e limitação e trabalhe as minhas questões pendentes - é trocar.

Trocar conhecimentos, vivências, experiências, afeto, prazer, cumplicidade, solidariedade.

Manter aqueles cinco personagens - a prostituta, o ladrão, o vampiro, o escravo e o mendigo - dá muito trabalho e demanda muita energia. Inutilmente. Pois fatalmente acaba desembocando em mais decepção, frustração e sofrimento, além de eventualmente prejudicar o(s) outro(s).

Melhor usar esta energia e este trabalho no sentido de se abrir o olhar interno para acessar e liberar os potenciais, talentos e capacidades inerentes ao ser humano.

Melhor usar o tempo, os neurônios e a energia bio-psico-emocional instrumentalizando-se com ferramentas e estratégias que efetivamente materializem e operacionalizem na vida prática a essência que vive aparentemente adormecida ou sub utilizada em cada um de nós.

Como? Quer uma lista? Por exemplo: terapias (só aí já dá uma lista enorme), meditação (também tem diversos tipos e estilos), Yoga (idem), trabalhos xamânicos (idem), e por aí vai.

São com certeza ferramentas muito eficientes para efetivarmos a nossa alforria dos grilhões que nós mesmos criamos.

Aí não precisaremos mais convocar aquele time dos cinco personagens para trabalhar para nós.

ERNANI FORNARI





segunda-feira, 2 de março de 2015

SOBRE A RESSONÂNCIA  E A SINCRONICIDADE

      Hermes Trimegistro com seu “o que está em cima é como o que está embaixo e o que está embaixo é como o que está em cima” parece expressar também, e de alguma forma, o mesmo postulado – que é muito oriental e ao mesmo tempo modernamente quântico – que reza que o mundo externo é só um reflexo do mundo interno (entendendo-se como externo a impermanente relatividade da existência, e como interno a mente e a Consciência).

    O mundo externo é uma construção da nossa mente.

    E simultaneamente todo o Universo está dentro de nós.

    E a ressonância (juntamente com a sincronicidade) é uma das formas como se expressa a Unidade na diversidade, de como se movimenta a Consciência absoluta e a energia que existe no âmago da aparente dualidade.

    Ressonância é o retorno que o externo nos dá através do espelhamento que ele faz para nós internamente.

    Aprendemos desde sempre, que Deus criou o mundo em 7 dias, fez tudo certo mas um tal de Adão resolveu comer maçã, foi expulso do paraíso, e agora Deus está no paraíso de onde ele arbitra nossas vidas, e nós aqui penando nesse mal necessário que é essa pecaminosa vida material de onde devemos nos esforçar muito para sair logo...

    Ainda há o agravante de que existe um anjo que resolveu querer se igualar a Deus, caiu e virou Satanás, e desde então vem se esforçando bastante para “botar areia” no projeto divino e nos lançar eternamente no sofrimento.

   Parece uma brincadeira, mas é sério!

   Isto ajudou a imprimir em nossa cultura ao longo dos últimos dois milênios, entre outras coisas, a crença coletiva de que o mundo externo é que é o real, o conceito de que a realidade é só aquilo que os 5 sentidos e a mente racional apreendem, e a crença de que pensar é o produto mais elaborado e sofisticado que o ser humano (que por sua vez, é o ser top de linha da Criação) produz.

    E em cima desta base, deste paradigma, construiu-se toda uma cultura. Esta nossa cultura ocidental européia, branca, greco-cristã-judaica, capitalista e de pensamento cartesiano e mecanicista.

    Aprendemos que somos pecadores e culpados de nascença, sentimentos que até hoje permeiam profundamente nossas relações internas e interpessoais.

    Então quando me ensinam que não sou e/ou não tenho (virtudes, talentos, qualidades, potencial, importância, amor, alegria, confiança,etc.etc.) aonde vou – automaticamente - buscar ser e/ou ter ? Fora de mim, claro.

    Aí, como não suporto meus buracos internos, vou lançando “tentáculos” energéticos e os vou ancorando em coisas e/ou pessoas na tentativa de me preencher.

     Sabe aquele papo “meu amor, não consigo viver sem você”, “o que vai ser de mim quando eu me aposentar ?”, “E quando meus filhos saírem de casa? “ e “Se roubarem meu carro? “...

      Pois é, aprendemos que não temos nada bom dentro e aí ficamos dependendo de meios externos para nos nutrirmos. E quando estes meios nos faltam ficamos mal. Ficamos vazios de novo, porque tentar se preencher do externo é como tentar se preencher de vento.   

    E aí entram em ação cinco personagens “mitológicos” que moram em nós, em nosso psiquismo : o mendigo, a prostituta, o vampiro (ou micróbio), o escravo e o ladrão (ou predador).

    O mendigo é o pedinte. É a nossa baixa auto estima, nossa menos valia, nosso vitimismo, nossos sentimentos de culpa, nossa falta de amor e respeito próprio. É o nosso coitadinho. É o que compara desfavoravelmente para si (“o jardim do vizinho é mais bonito”). É o perseguido, o injustiçado, o rejeitado.

     A prostituta é a que cede seu tempo, seu ouvido, seu dinheiro, sua casa, seu trabalho, seu direito de dizer sim e não quando quiser, seu direito de merecer e receber, e muitas vezes cede até seu sexo, esperando receber em troca o retorno que venha suprir suas profundas demandas e carências internas. É o nosso “bonzinho”. É a síndrome do “agrade sempre”.

    O vampiro (ou micróbio) é o que suga, o que recebe mais do que dá, o que se sente sempre no prejuízo, o que sempre procura culpados, o que lança sua ancora no porto que aceitar suprir duas demandas porque morre de medo de perder o pouco que pensa (e que sente) que tem. É nosso lado desesperado, inseguro, desconfiado.

     O escravo é quem vive o “ruim com você, pior sem você”, “não consigo viver com você nem sem você”, “estamos juntos por causa dos filhos (ou porque temos um negócio, ou um imóvel)”, “detesto meu trabalho, gostava muito de teatro mas fiz concurso público para ter segurança”, ou mesmo quem é preso a vícios e hábitos neuróticos não saudáveis. 

     Muitas vezes o escravo é o ganho secundário (por exemplo, “isto me faz sofrer mas me garante a sua atenção”).

    E o ladrão (ou predador) é o que se apropria do que não é seu, em qualquer que seja o nível. É o que não respeita regras e limites.

     E nós pensamos honestamente que quando, por exemplo, nos apaixonamos, o amor nos chega através do outro. E se o outro se vai, o amor se vai com ele.

     Na verdade, precisamos do outro não para nos trazer o amor que não tínhamos, mas para que experienciemos através dele o nosso próprio amor (e o outro idem).

     Por isso, por exemplo, distorcemos a função original dos mitos produzidos pelas diversas civilizações - como os deuses das diversas mitologias, os Orishás, Anjos, Santos, Animais de Poder - que deveriam ser para nós os espelhos arquetípicos que nos refletem a perfeição interna que essencialmente somos mas que não acessamos.

     Mas acabamos fazendo com eles idolatria, barganhas, esperando que estes Seres de Luz possam nos dar aquilo que pensamos que não temos, quando sua função é justamente nos ajudar a perceber que já somos e temos quem e o que buscamos ser e ter.

     O que as culturas antigas e a moderna psicologia – especialmente as escolas transpessoais –  estão propondo é a idéia de que o que quer que seja Deus para cada um, está dentro do ser humano como Consciência eterna.

     Então eu não preciso mais de um Deus pessoal em algum Paraíso arbitrando de lá a minha vida, me punindo e me recompensando.

     Deus está dentro de mim trabalhando comigo pela minha própria expansão e auto realização.

     E o que quer que seja o Mal, ele é em síntese, toda a minha resistência em romper a inércia dos meus controles e das minhas defesas e resistências, e mudar para crescer.

     Ele, o Mal, também é todos os obstáculos e bloqueios que coloco para que eu não veja quem Eu Sou verdadeiramente, e então assim tenha que superar estes obstáculos e bloqueios e aprender com os exercícios evolutivos para poder conquistar a experiência da liberdade da Consciência eterna.

     E esse Deus, esse Eu Superior, essa Presença Divina, ou como O quiserem chamar, age de “dentro” de mim atraindo todas as experiências - vindas através de pessoas, coisas ou de eventos - que eu como humano, evolutivamente, karmicamente, preciso exercitar e aprender para transpor estes obstáculos e resistências que eu mesmo, consciente e inconscientemente, coloco no meu processo de expansão e auto realização.

     Sou sempre co-criador e co-responsável pelo meu destino e pela qualidade dele.

     E o que a ressonância e a sincronicidade estão mostrando o tempo todo é, trocando em miúdos, que todos e tudo somos Um em todos os níveis, e que o Universo está sempre se auto-regulando, sempre buscando a homeostase, e está sempre se comunicando conosco através de todos os reinos da Natureza e das multidimensões.

    Acredito que a sincronicidade e a ressonância são dois aspectos da lei do karma e que são a própria Inteligência em ação no(s) sistema(s).

     Compartilhamos todos a mesma Consciência Eterna. Compartilhamos o mesmo inconsciente humano  (C.G.Jung não falou do inconsciente coletivo?). 

Compartilhamos as mesmas emoções e sentimentos enquanto Humanidade. E segundo a moderna Física das Conexões, literalmente compartilhamos a mesma matéria já que trocamos átomos o tempo todo com o meio.

     Segundo F. Capra, as interconexões entre as “coisas” tem até mais importância do que as “coisas” que se interconectam, porque estas “coisas” não existem como coisas inter-separadas, mas pensam, sentem, agem e vivem como  se fossem entidades separadas, e precisam, através das interconexões, re-experienciar sua condição real de Ser uno com todo o Universo.

     E as interconexões existem para provocar o exercício de expor a sombra (que é quem fomenta e mantém a crença da separatividade e a perpetuação do sofrimento) para poder ressignificá-la e trabalhar na direção em que vai todo o movimento universal, que é a busca do estado original de Unidade.

        É muito interessante como muita gente fala sobre os relacionamentos que “a paixão é uma coisa maravilhosa, mas depois com a convivência as máscaras caem, o encanto se vai e a brigas começam”. Como se isso fosse um defeito de alguém ou do próprio processo.

     A paixão é um maravilhoso surto que tem a função de criar - via enamoramento, tesão, atração intelectual, etc. – vínculos, em função da co-atração kármica que aconteceu entre as duas pessoas e dos exercícios que elas combinaram previamente compartilhar para crescer.

    Quando o vínculo está criado, a paixão deveria ceder ao que pretendemos que seja o amor, e aí vamos nos burilar mutuamente através do espelho que um faz para o outro e dos exercícios que um traz para o outro, expondo assim as sombras e o material inconsciente que tem que ser visto para ser curado e integrado.

     As personas – máscaras, isto é, “o que gostaríamos que o outro acreditasse que somos” – não duram muito mesmo. Não é sua função durar, elas só existem neste caso, para ajudar a criar os vínculos.

     E baixado o surto da paixão - “quando as máscaras caem” - justamente quando o trabalho ia começar... as pessoas começam a brigar e se separam! 

     Porque ninguém quer ver a sombra que o espelho do outro está mostrando.

     E aí o que aprendemos - e o que normalmente se faz nestes casos - é imputar ao outro a culpa pelos nossos dissabores (ou pior, imputar a nós mesmos a culpa por tudo). E o outro idem.

    Adoro uma frase que aprendi : “Você quer ter razão ou ser feliz ?”

    Em Psicanálise, o trabalho com transferência e contra-transferência também é uma expressão da ressonância em ação entre duas pessoas se espelhando mutuamente.

    Aliás, no tempo de Freud, o psicanalista se sentava atrás do divã do paciente, entre outras coisas, para atenuar essa ressonância/transferência-contratransferência.

    Hoje nas abordagens mais holísticas, mais sistêmicas e mais transpessoais, o terapeuta se senta frente a frente com o cliente pois sabe que a linha que divide terapeuta de paciente é muito tênue já que a ressonância está presente o tempo todo, e o terapeuta sabe que ele (co)atraiu aquele cliente porque este traz sincronicamente e ressonantemente alguma parte dele, terapeuta, para ser olhada e curada também.

      A prova mais bonita que testemunhei da ressonância em ação foi em um congresso de psicologia corporal em Florianópolis (2005) organizado pelo meu ex-sócio Ralph Viana, que convidou Monica Oliveira e eu para apresentarmos o nosso trabalho lá.

      Após a exposição da parte teórica fizemos uma Roda de Cura, ou seja, uma pessoa voluntária deitou no centro de uma roda com as outras pessoas sentadas em volta e os 2 terapeutas fazem o trabalho de canalização e de limpeza energética.

     Só que naquele dia tinham umas 200 pessoas nessa Roda de Cura, ou seja, 90% das pessoas não viu nem ouviu absolutamente nada do que se fez e se falou.

     Após o trabalho, várias pessoas vieram falar com a gente, super mexidas, algumas chorando, perguntando o que tinha acontecido, o que tínhamos trabalhado, pois elas não tinham conseguido ver nem ouvir nada.

     Nós lhes contamos mais ou menos o que aconteceu, e todas estas pessoas que nos procuraram e que tinham ficado mobilizadas, se identificaram profundamente com a temática trabalhada na pessoa que deitou no centro da Roda.

    É muito comum também se perceber fortemente a ressonância em trabalhos de Constelações Familiares, quando não só as pessoas que estão representando como também algumas pessoas que estão sentadas apenas assistindo se mobilizarem profundamente com as histórias que estão aparecendo na Constelação.

     E quando penso em ressonância penso em relacionamentos, e sempre que penso nisso invariavelmente me vem na lembrança a “tecnologia” nativa norte americana do Talk Stick ou o “Bastão da Fala”.

     Os índios sabiam que cada ser humano está imerso dentro da perspectiva de realidade que ele mesmo vem construindo fruto de suas vivências e experiências (e de como ele absorve e processa estas vivências e experiências), e que é a partir daí, deste “sagrado ponto de vista” resultante, que cada um se experiencia internamente e experiencia a dinâmica evolutiva dos relacionamentos.

    E quando nossos sagrados pontos de vista são discordantes, normalmente nós discutimos e brigamos, porque queremos ter razão, queremos vencer. 

    Quando estamos neste nível, no nível do ego, fica muito difícil a resolução das questões. A questão vira uma disputa, uma competição a serviço de questões internas que nem sempre tem relação direta com o assunto em foco.

    Então dois índios que estão com alguma questão pendente, em vez de discutirem e brigarem, sentam-se um na frente do outro, um deles pega o bastão e aí pode falar o que quiser durante o tempo que quiser, o outro não pode interromper e tem que procurar ouvir tudo com uma escuta aberta, receptiva e neutra (não julgadora).

    Depois troca-se o bastão.

    Desta forma, depois que termina os índios podem resolver sua questão, ou podem até se levantar e ir embora sem falar mais nada, porque um já sabe o “sagrado ponto de vista do outro”, o que motivou o outro, qual foi a intenção do outro sob a perspectiva do outro.

    E isso às vezes é o suficiente para que possamos perceber qual o exercício evolutivo que o outro nos trouxe através do espelho que ele está nos fazendo.

ERNANI FORNARI