SOBRE
A SOMBRA
A Física
Quântica é a ciência das infinitas possibilidades e a ciência que estuda as
interconexões entre todo o Universo.
Segundo F. Capra, as interconexões (ou relacionamentos) tem até mais
importância do que as “coisas” que se interconectam, porque estas coisas não
existem como coisas inter-separadas, mas pensam, sentem, agem e vivem como se fossem entidades separadas, e precisam se
interconectar para (re)descobrirem que são Um.
As interconexões existem para provocar o exercício de expor a sombra
(que é quem fomenta a crença da separatividade) e trabalhar na direção em que
vai todo o movimento universal, que é a busca do estado original de Unidade.
Este movimento universal de
homeostase, expansão e transcendência é chamado pelos hindus de Sattwa Guna.
Todas
as coisas que passamos e experienciamos na vida, imprimem uma informação
psico-emocional em nosso inconsciente.
As
coisas positivas que vivemos, nossas vitórias, os reconhecimentos, o afeto e
apoio que tivemos, aquilo que conquistamos, os obstáculos que superamos, tudo
isso vai imprimir informações psico-emocionais “positivas” em nosso
inconsciente como se fosse um software.
Por
outro lado, as perdas, as traições, as faltas, as violências, as injustiças, as
carências e as derrotas, bem como nossos defeitos, falhas e imperfeições
humanas, vão imprimir informações psico-emocionais “negativas”, como softwares com vírus e bugs.
Entenda-se por positivo e negativo aqui não um julgamento moral, mas as
polaridades energéticas universais. Até porque não acredito em nada que seja
negativo, mau, errado ou ruim no Universo. Tudo são apenas aparências. Obstáculos para serem superados. Material de trabalho.
Então,
o que chamamos de personalidade e caráter é o resultado destas duas instâncias
que poderíamos chamar de a Luz e a Sombra em nós. A parte de nós que trabalha a
nosso favor e a parte de nós que trabalha “contra” nós. Aonde nós nos ajudamos
e aonde nos atrapalhamos, aonde nós oferecemos resistências.
É como
se tivéssemos um jogo de futebol acontecendo em nós permanentemente. O time da
Sombra e o time da Luz. E a gente fica tentando fazer com que o pessoal do time
da Sombra passe prá Luz.
Isto
vem trazer diversos desdobramentos:
- Primeiro,
a necessidade de ressignificarmos nossa Sombra – nossa natureza mais animal, nossos
defeitos, falhas, erros, imperfeições, dificuldades, bloqueios, raivas,
tristezas, medos, padrões e crenças limitantes e dolorosas... e também todo nosso potencial, capacidades e
talentos ainda não desenvolvidos.
Nossa
Sombra não precisa mais ser vista como um mal, como um castigo ou um estigma.
Nossas dores e limitações não precisam ser mais vistas como algo inevitável e
irreversível, nem como necessariamente culpa dos nossos pais, de Deus, do
governo, dos patrões, do sistema, ou pior, de nós mesmos.
Nossa
Sombra é apenas o material de trabalho – pendências do passado - de que
dispomos para nos aperfeiçoarmos nesta encarnação.
O que
chamamos de defeitos, falhas e erros, são na verdade nossos obstáculos, testes,
exercícios, aprendizados, treinamentos, e que, diga-se de passagem, foi tudo
pedido, pré-contratado, aceito e atraído por nós para nosso desenvolvimento e
evolução, numa parceria perfeita, justa e inteligente com o Universo.
Nossa
Natureza Real é a Unidade, o Equilíbrio, a Harmonia, a Felicidade, a Paz, o
Amor e a Luz. Já fomos construídos prontos e perfeitos, apenas sofremos de uma
profunda ignorância deste fato.
Absolutamente não somos pecadores, nem culpados e nem vitimas de nada e
nem de ninguém.
Tudo
em nós que não sejam as qualidades e virtudes citadas acima, não é realmente o
que nós somos. É apenas como estamos no momento, temporariamente, fruto da
nossa limitada perspectiva humana. Só tem realidade virtual dentro da realidade
relativa que construímos. São nossas crenças, bloqueios, padrões, auto-imagem,
personas.
No Hinduísmo,
estas informações psico emocionais se chamam samskaras (impressões, que geram vasanas : caráter, personalidade, tendências) e no Alinhamento
Energético chamam-se “corpos energéticos”.
E os
hindus também consideram que todas as emoções ditas negativas, emanam de uma
única emoção central, nuclear, que é o medo de morrer, e que, por sua vez,
também tem origem em um medo ainda mais atávico e visceral que é o medo da
dissolução do ego no Todo, o medo de perder a falsa identidade individual.
- Em
segundo lugar, poderíamos dizer que a equação do crescimento pessoal é,
inevitavelmente e invariavelmente : entrar na consciência do que está
reprimido, resistido e defendido " aceitar (entender a função do que foi atraído como
material de trabalho) " fazer um movimento para transmutar e integrar.
Trazer
para a consciência através de reflexão, meditação e/ou terapia, nossas crenças
e padrões limitadores, bem como nossa Luz, talentos e potencial. Mas só trazer
para a consciência não é suficiente. Temos então que...
-
Aceitar. Olhar para nós mesmos com maturidade, com neutralidade e compaixão sem
comparar com nada nem com ninguém, entendendo a função do que nos acontece e
aceitando que se está aqui neste laboratório planetário, neste teatro cósmico,
para transformar a Sombra em
Luz. Ninguém tem “cacife” para julgar ninguém, nem mesmo si a
próprio. Tentativa e erro é justamente o
que temos que fazer para aprender e crescer. Trazer a Sombra para a
consciência, sem a sua aceitação subsequente, pode gerar muita culpa e muito
stress. E a porta para aceitação é a compreensão da função, do exercício
evolutivo que determinada pessoa ou situação que atravessou nosso caminho, está
nos chamando para trabalhar.
-
Finalmente, fazer um movimento para transmutar,curar, ressignificar, criar um
novo padrão, expandir o que estava bloqueado, aprofundar. E o Alinhamento Energético vem
como uma ferramenta altamente eficiente para promover as transmutações e ressignificações
necessárias, geralmente de uma forma rápida e profunda.
Estes
são os três degraus do auto-desenvolvimento.
Mas é
muito importante que consideremos também duas características psico emocionais
fundamentais e bastante estruturais em nós, neste processo ilusório à que
estamos submetidos (por nós mesmos), e que funcionam como verdadeiras
armadilhas no processo evolutivo :
- A auto-imagem - quem eu acredito que eu sou -
e a persona - quem eu quero e/ou
preciso que os outros acreditem que eu sou (e que está a serviço da auto-imagem
para “equilibrá-la” e compensá-la).
E
temos que lidar ainda com dois profundos estados de cisão:
- A cisão externa (eu me sinto separado dos
outros, da Natureza e de Deus) e a cisão interna (eu sinto a separação entre
meu corpo, minha mente e minhas emoções).
É
preciso muita auto-observação, muita neutralidade, muita humildade e respeito
por nós mesmos, e muito trabalho interno para podermos equacionar e integrar
este atávico jogo de aparências.
Outra
coisa também extremamente importante, é que re-signifiquemos o conceito e a
função do chamado “Mal”.
A
função do Mal não é destruir o Bem, como muitas religiões tem colocado de forma
maniqueísta.
A
função do Mal é se transmutar em Bem. O Mal é o Bem na polaridade
desequilibrada, escura. A Sombra
é a Luz no outro lado da moeda.
O
“Mal” é o desequilíbrio que tem que se equilibrar, a desarmonia que tem que se
re-harmonizar. É o exercício, o obstáculo, os testes, as provas.
E no
processo de ressignificação do Mal temos que ressignificar também o papel do
demônio, de Satanás ou do diabo.
Imaginem se o mais alto ser da mais alta hierarquia angélica – Lúcifer
(aquele que traz a Luz) – ia ser tomado por uma emoção tão humana e terrena
como a inveja !!! Nem os anjos da primeira hierarquia tem emoções humanas. E aí
este mega-anjo caiu e virou um ser em guerra com Deus e ainda arrastou uma
turma grande com ele...
Só
pode ser mito e como mito deve ser interpretado.
Lúcifer (que também trabalha na Egrégora do Ministério de Cristo), é o
Ser de Luz que promove os obstáculos e exercícios necessários para o
crescimento e a expansão de toda a Criação. É Deus que aceitou descer aos
infernos e à Sombra do homem para ajuda-lo à resgatar sua Luz.
Na
Mitologia Hindu, os demônios são sempre grandes devotos de Deus (em geral de Shiva), e sempre são liberados quando
Deus (geralmente Vishnu) os mata.
Imagine, por exemplo, um atleta de ponta de nível olímpico. Vamos dizer
que seja um saltador em altura. O que ele faz ? Contrata um treinador que coloca
a vara em determinada altura.
Aí
este atleta treina duro durante meses, com disciplina espartana até que consegue
saltar. Quando ele salta e está lá todo feliz e orgulhoso, seu treinador sorri
e... levanta um pouco mais a vara, e começa tudo de novo.
Por
acaso este treinador significa o mal para o atleta ? Será que ele está
trabalhando contra ele ? O saltador deve ficar com raiva do treinador ?
Então, costumamos dizer de brincadeira que quando Deus faz reunião de ministério,
quem está sentado à sua direita é Jesus, e à sua esquerda é Lúcifer, o “grande treinador”.
Claro que existem as regiões infernais. Claro que ao desencarnar muita
gente vai para estes locais. Mas estes locais não são nada mais que projeções
do nível vibratório e evolutivo interno da própria pessoa. O inferno e o Céu
estão sempre dentro do homem.
Portanto, não desqualifique sua Sombra. Não diga “que droga, fiquei com
raiva”, “estou com um medo horrível”, “que tristeza terrível”. Não negue, nem menospreze nem maldiga as
emoções chamadas negativas.
Aceite
a sua inveja (in-veja, veja dentro o potencial que você pensa que só o outro
tem), seus ciúmes, seus apegos, suas fraquezas. Olhe para elas com a visão da
Águia – com neutralidade, equanimidade e compaixão.
Também não procure fugir da sua Sombra
focando na Sombra do outro, porque ao fazê-lo você só estará vendo a sua
própria Sombra na Sombra do outro.
Conscientize, observe, sinta, perceba o aprendizado que você atraiu
através destas emoções e sentimentos, transforme-se e libere-as. Senão elas
ficarão se repetindo (e com intensidade progressivamernte aumentada) até que
você faça algum movimento interno de liberação.
Grande
parte das informações psicosemocionais positivas e negativas que construíram
nossa personalidade e caráter foram enraizadas na infância, justamente numa
época da vida em que temos poucas condições de compreender de uma forma ampla e
profunda o sentido e a função do que nos aconteceu, e as circunstâncias
complexas em que os eventos ocorreram – não sabíamos, por exemplo, que não
éramos o centro do mundo e que nossos pais não eram perfeitos.
Neste
caso, o que fica mais contundente é o que se sente, dentro da perspectiva
estreita do que se compreende.
Até
porque muito antes de pensar nós já sentíamos.
Uma
criança, por exemplo, que sofre violências do pai, não tem condição de avaliar
que o pai também tem suas questões, suas dores e doenças, que também teve pais
que tiveram pais...
O que
fica marcado criando o trauma é o fato em si e seu sentimento.
A
criança funciona dentro de uma “lógica”, uma equação simplista, mas geradora de
toda uma série de sofrimentos emocionais : “se fizeram isto comigo é porque não
gostam de mim. Se não gostam de mim, é porque não sou bom“.
Porque
visceralmente necessitamos – e buscamos isso desesperadamente – sermos aceitos,
reconhecidos e amados. E para receber isto, para nos sentirmos pertencendo,
“fazemos qualquer negócio”, nos tornamos rigidamente perfeccionistas, ficamos
neuroticamente “bonzinhos”, só pensamos nos outros e esquecemos de nós, e nos
deixamos “prostituir”, cedendo excessivamente nosso tempo, dinheiro, ouvido,
paciência, trabalho, até sexo, em troca do que necessitamos.
E como
o cérebro não reconhece a diferença entre o que aconteceu no passado e o que
aconteceu hoje (Freud teria adorado saber disso!), as informações dolorosas
ficam sendo permanentemente atualizadas, e o conjunto destas informações são hoje as nossos traumas, crenças, padrões
limitadores e bloqueios.
Ficamos carregando conosco todas as crianças sofridas que fomos como se
ainda as fossemos.
Quase
tudo fruto de equívocos de perspectiva que mantém as emoções e a psique
desequilibradas.
Precisamos liberar nossas crianças sofridas, devolvendo-as felizes ao
passado, e passando a encarar e a lidar amorosamente com a Sombra como nosso
precioso material de trabalho evolutivo.
É o
primeiro passo para amar a si mesmo, que é o primeiro passo para amar ao
próximo e ao Universo.
ERNANI FORNARI