SOBRE O AMOR
INCONDICIONAL
Interessante
como muita gente enche a boca para falar em nome de um “amor incondicional”.
A intenção em
um nível mais superficial é muito bacana, mas o que percebo na grande maioria
das vezes é que esse “amor incondicional” é como que um sobre-ego construído
para compensar (e anestesiar) uma profunda dor, uma profunda cisão interna no
Eu humano.
Aí eu me
invisto dessas palavras bonitas e super aceitas pelo coletivo e dou, dou, dou,
dou incondicionalmente, passando com um trator por cima de mim, na tentativa
desesperada de ser aceito, amado e reconhecido e aí talvez possa receber,
receber, receber (aquilo que eu acredito que não possuo) para embriagar a minha
dor.
Infelizmente
nossa cultura respalda essa doença, com a manutenção de velhas crenças - que
muita gente boa alternativa e espiritualista engole e acredita – tais como :
dar é mais nobre do que receber, fazer pelo outro é mais elevado que fazer por
mim, fazer por mim é egoísmo, etc.etc.
Axiomas
excelentes que igrejas e ditaduras sempre usaram para dominar e manipular.
Mas Cristo
deixou bem claro o caminho : “Amai ao próximo COMO a ti mesmo” .
Não falou
ANTES nem MAIS. Mas foi lido assim...
E aí só resta
a máxima : Ninguém dá o que não tem!
Você ama
incondicionalmente a você mesmo?
Se ama, ok,
está coerente. Você é uma pessoa especial e que pode fazer real
diferença no mundo.
Se não, você
apenas fica alternando algumas personas internas que adoram este “serviço”
doador (para poder receber em troca) : a prostituta, o vampiro, o escravo e o
ladrão?
Qual dessas
personas seu “amor incondicional” lança mão para seus intentos
re-compensadores?
Qual destes
personagens míticos alimentam sua “síndrome do salvador” ou sua obcessão em agradar sempre?
Além disso, você
também se reconhece como portador da “síndrome do cachorro vadio” (que toma porrada,
toma porrada e sempre volta)?
Para piorar mais, a religião ainda misturou se priorizar com egoísmo, auto valor com vaidade, pobreza
com virtude, e por aí vai.
Galera, prá
falar em nome do amor incondicional, vocês tem pelo menos que ter a estatura de
um Chico Xavier, de um Dalai Lama ou de uma Madre Tereza.
Fora isso,
amigos, é puro ego fake (geralmente muito estruturado) querendo compensar um ego profundamente machucado.
Então vamos
ser mais humanos e humildes e aceitar com compaixão o nosso amor condicional, humano e ainda
limitado.
Me lembro
sempre do grande Bert Hellinger quando diz que : “Quem falou que filhos tem que
amar os pais?”
O próprio
mandamento diz HONRAR PAI E MÃE, não AMAR.
Ninguém ama
quem o machuca, quem o oprime, quem o rejeita.
Claro, a não
ser que você seja Madre Tereza ou masoquista.
Se o seu
caso é a primeira opção, parabéns. O mundo está precisando muito de gente
assim.
Se é a
segunda opção, recomendo terapia. Urgente !
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