domingo, 29 de janeiro de 2017

SOBRE A INTOLERÂNCIA RELIGIOSA
I. Eu tive um professor que dizia que a humanidade é como um bolo onde Deus é aquele furo no centro do bolo e cada religião seria um fatia do bolo.
O problema é que fica cada fatia querendo convencer o resto do bolo de que ela, fatia, é o bolo inteiro. Interessante como o ser humano há milênios vem guerreando e se degladiando ferrenhamente pelo que não concorda - que em termos de religião, cá entre nós são os aspectos mais desimportantes, isto é, o nome do meu Deus, minha concepção Dele, meu livro sagrado é tal e é o único verdadeiro, meu mestre ou avatar é tal e é o único e o melhor, e por aí vai.
Curiosa essa tendência do homem de investir pesado na exclusão, na divisão.
Talvez a chave para essa cura não seja nem ter religião nenhuma nem ter uma só religião para todos - acho as duas possibilidades fantasiosas - mas sim o simples e vital fato de pessoas de uma religião conseguirem perceber e aceitar que as outras também são tão verdadeiras e certas quanto a sua.
Muito doida essa mania de se querer ter exclusividade.
Se Deus criou a diversidade, um planeta com bilhões de espécies de todos os reinos, um monte de raças e culturas com milhares de idiomas e características históricas, geográficas, sociológicas e antropológicas diversas, é totalmente irracional e bastante pouco inteligente achar que uma só religião vai servir para todos, e mais irracional ainda é querer estabelecer isso na marra...
Por outro lado cresce cada vez mais a compreensão de que é muito mais bonito, pacífico e inteligente os diversos caminhos compartilharem naquilo que concordam, e não ficar brigando pelo que discordam.
E se tirar o desimportante e o superficial das religiões (que é aonde as pessoas mais se apegam), todas elas concordam muito mais do que discordam, pois o Deus de todas é o mesmo e os princípios mais básicos e fundamentais também.
Dentro dessa temática, me parece que três componentes são fundamentais serem devidamente destrinchados para serem corretamente entendidos:
Compreensão, aceitação (vou chamar aqui de aceitação o ato de concordar) e respeito.
Para verdadeiramente se respeitar – e vamos nos ater aqui ao tema religião – não é preciso concordar, mas é preciso compreender.
Compreensão é entender o ponto de vista do outro, é entender as características, as motivações, os contextos e os referenciais do outro.
Quando avaliamos uma outra religião ou uma outra cultura usando como parâmetro os nossos próprios referenciais, o que estamos exercitando é julgamento, o que normalmente acaba descambando em crítica e condenação.
Para compreender o outro é necessário, como dizem os índios norte-americanos, vestir o mocassim do outro.
É preciso considerar, como disse acima, o universo do outro com seus contextos e características próprias, como um cientista que busca conhecer o que está analisando, com neutralidade e isenção.
Respeitar sem compreender não é respeitar. É tolerar, no pior sentido do termo. É engolir, aturar, suportar.
Respeitar não é necessariamente concordar. Respeitar é reconhecer valor no outro.
E eu só posso reconhecer valor quando eu compreendo.
Talvez o ser humano precise desenvolver a habilidade de compreender mesmo não concordando.
Daí talvez surja o verdadeiro respeito.
Trazendo estas questões para a esfera das terapias, o que seria focado e trabalhado é: que memórias e registros difíceis do passado, que experiências dolorosas e limitadoras uma pessoa viveu que nesta vida, nesta personalidade atual estão eclodindo como uma necessidade de se ser radical, intolerante, fanático.
Que inseguranças, medos e carências são essas que precisam de uma atitude extrema de julgamento intolerante e segregação às vezes violenta para com o outro para que a pessoa se sinta com auto-estima e mais valia, ou para que se sinta pertencendo?
Ou se é alguém que seguidamente sofre com intolerância, radicalismos e bullying religioso, numa terapia sistêmica, como Alinhamento Energético, por exemplo, a pergunta terapêutica seria: aonde eu ainda não sou forte na fé, aonde em mim eu ainda dou valor ao julgamento alheio, aonde em mim minha auto estima e minha mais-valia ainda são frágeis?
Ou então: aonde em mim eu ainda sou intolerante e radical comigo mesmo em alguns setores internos da minha vida, aonde eu ainda me critico, me trato mal, me julgo, que eu precisei atrair no meu campo atitudes de intolerância, julgamento e preconceito para me indicar sistêmicamente aonde isso ainda vigora dentro de mim para comigo mesmo e poder assim trabalhar e transmutar isso?

II. Há algum tempo venho matutando sobre os cristãos usarem o termo “A palavra de Deus” para se referirem à Bíblia.
E o primeiro pensamento que sempre me vem à mente ao ouvir isso, é que, até onde eu saiba, Deus nunca desceu à Terra com papel e caneta para escrever alguma coisa.
Ok, tô sabendo, Deus se utiliza de pessoas especiais para se manifestar através delas, como por exemplo – no caso da Bíblia – aconteceu com Moisés (que serve tanto para os judeus quanto para os cristãos), com os profetas e com os apóstolos.
O segundo pensamento que me vem em seguida, é sobre o que me parece ser a característica mais evidente de Deus em sua Criação – a diversidade.
E Deus caprichou na diversidade. São incontáveis tipos de minerais, vegetais, animais e raças humanas (com seus absolutamente singulares rostos e impressões digitais).
Porque então esse Deus da diversidade, só no que se refere à religião, seria exclusivista?
Para mim, me parece totalmente infantil e ingênua a ideia de que uma única religião, um único livro sagrado ou um único “salvador” sirva para todas os inumeráveis povos e civilizações sobre a Terra, com sua imensa diversidade histórica, geográfica, cultural, antropológica e sociológica.
Então não parece muito mais óbvio e lógico que esse Deus da diversidade, respeitando essa imensa diversidade que Ele mesmo criou, se manifestasse e se revelasse indistintamente para TODAS as civilizações e culturas, respeitando suas características históricas, culturais, antropológicas, etc.etc.?
Se você não é fanático religioso e nem está preso na ilusão de que só a sua religião é que é a certa e a melhor, pode, com um pouco de informação, perceber que Deus se utilizou de pessoas especiais para se manifestar e se revelar, ao longo de toda a história da Humanidade.
E aí podemos ver Maomé com seu Corão (o Islamismo), Vyasa com os Vedas (o Hinduísmo), Lao Tsé com o TaoTeKing (o Taoísmo) e por aí vai. E estes são só alguns. Todas as religiões tem seus profetas, seus livros sagrados e seus salvadores.
Se você não é fanático religioso e nem está preso na ilusão de que só a sua religião é que é a certa e a melhor, pode, com um pouco de informação e estudo das outras religiões, comprovar que TODOS os livros sagrados falam a mesma coisa.
Se você conseguir ser aberto e souber separar a essência dos ensinamentos da práxis religiosa e dos contextos históricos, culturais e sociais característicos das épocas em que estes livros foram escritos, poderá facilmente perceber que eles falam absolutamente a mesma coisa.
Ou seja, TODAS as religiões falam a mesma coisa pelo simples fato de que o Deus de cada uma é o mesmo Deus, independentemente dos incontáveis conceitos teológicos existentes.
Veja por exemplo: compare os Dez Mandamentos (dos cristãos e judeus) com os Yamas e Nyamas (do Hinduismo) e com o Caminho Óctuplo de Buddha, e você vai ver que falam absolutamente a mesma coisa. E olha que são muitos séculos de distância entre uns e outros escritos.
E aí, podemos ver claramente, que as “guerras santas” e que as abundantes formas de preconceitos religiosos que acontecem desde sempre na história do homem sobre a Terra, tem suas origens (vendo aqui apenas os aspectos religiosos da coisa) no que há de menos importante nas religiões: “Meu Deus é mais verdadeiro que o seu deus”, “Minha escritura sagrada é mais sagrada do que a sua”, “Eu sou de Deus e você, de outra religião, é do Demônio”, “Só o meu salvador é que salva”, “Minha Terra Santa é mais santa do que sua”, e por aí vai...
Porque se você realmente ler com espírito aberto e com um olhar isento e inteligente todas as “palavras de Deus” das variadas religiões, vai ver que, na essência, no que é realmente relevante e fundamental para o ser humano, TODAS FALAM AS MESMAS COISAS.
E como insight final, sempre me vem o sentimento de como é difícil para o ser humano - mesmo professando e crendo em uma determinada religião, adotando determinada abordagem teológica – considerar que o outro que professa outro credo, que tem outra religião, também está tão certo quanto você e que a religião dele é tão boa e tão verdadeira quanto a sua.
Isso é inteligência e maturidade espiritual. Isso é compaixão. Isso é fraternidade.


MEDITAÇÃO E TERAPIAS. CORAGEM E HUMILDADE.

I.                Me parece – como resultado parcial da minha reflexão em função de 40 anos de buscador e quase 20 de terapeuta – que a espinha dorsal, o foco central de qualquer processo de auto conhecimento e de cura deveria ser a meditação.
Quase todas as culturas antigas parecem corroborar este fato.
E quase todas estas culturas desenvolveram técnicas e métodos não só de meditação como também de práticas acessórias que vão dar suporte e complementar este exercício.
E o que me parece mágico é que meditação, como técnica, é a coisa mais simples que existe, oferecida para se resolver a mais complexa – a questão do equacionamento do sofrimento e das limitações humanas, e a re-experienciação de quem realmente se É.
Então eu queria aqui refletir sobre o processo da meditação como um todo, em seu aspecto mais amplo.
E vou focar aqui nas culturas orientais, que são as que conheço melhor.
Percebo que todas estas culturas desenvolveram, não só variadas técnicas de meditação, como também de práticas e exercícios que tem a função de complementar, elaborar, e expandir para todo o complexo humano, os benefícios auferidos com a prática da meditação.
Estas antigas culturas percebendo a complexidade do ser humano, não só desenvolveram estruturas de conhecimento e de técnicas que se propõe a trabalhar toda a dimensão do ser humano, mas também abordando o trabalho sempre do interior para o exterior e do exterior para o interior.
Assim, vemos por exemplo, no Yoga, como todas as abordagens – Jñana, Bhakti, Karma, Raja, Hatha – contém em si todas elas. 
Impossivel, por exemplo, Karma Yoga sem Bhakti, sem Jñana, sem meditação, sem trabalhar a dimensão psico-física, e por aí vai, numa compreensão milenar da natureza holística e sistêmica do ser humano.
Uma outra característica fundamental das culturas orientais é a presença de um Guru, de um Mestre espiritual.
Desta forma, o Guru pode desempenhar quatro funções na vida de um discípulo:
- Oferecer sua Luz, seu Amor, sua Paz, sua Energia
- Oferecer seu conhecimento e sabedoria
- Oferecer seu exemplo de vida
- Oferecer sua companhia física no dia-a-dia do aprendizado do discípulo.
Para se beneficiar dos três primeiros quesitos não é necessário que o Guru esteja vivo. Todos os devotos de seres iluminados como Ramana Maharshi, Ramakrishna, Nisargadatta, Yogananda, entre outros, recebem a Luz, os conhecimentos e o exemplo de vida de seus Mestres sem precisar te-los conhecido pessoalmente.
Mas tem o quarto quesito, onde o Guru funcionava como uma espécie de terapeuta, ajudando ao discípulo à compreender, elaborar, transmutar todo o material psico-emocional-energético que era liberado através das práticas de meditação, dos estudos, das práticas devocionais, das práticas psico-físicas.
Quando, lá pelos idos dos anos 60 e 70, a cultura oriental “invadiu” o ocidente, vieram os livros, vieram as técnicas, a culinária, as músicas, mas vieram pouquíssimos Gurus, e muito pouca gente pode se beneficiar do dia-a-dia com um Mestre ao seu lado dando suporte às práticas, aos obstáculos e aos resultados delas.
E aí, na minha “viagem na maionese” eu penso que a consciência planetária vendo isso, e vendo que o ocidente ia acordar para o acesso a dimensões e níveis de realidade bem mais amplas e profundas de si e da vida, e percebendo que a figura do Guru não faz parte da realidade ocidental, precipitou a figura do terapeuta.
Inicialmente através da Psicologia e da Psicanálise, e depois das terapias em geral.
O terapeuta viria cobrir a lacuna da quarta função do Guru, a de facilitar o acompanhamento e o suporte de um dia-a-dia no exercício de técnicas e métodos de auto cura e de auto conhecimento.
A diferença é que o Guru é um ser iluminado capaz de enxergar a profundidade da mente e da alma de seu discípulo. Sua função maior é levar o discípulo à iluminação, à experienciação de quem ele realmente É.
O terapeuta é um técnico, que aprendeu um método - e que se submete também a ele - e que está habilitado a dar suporte terapêutico no decorrer da jornada de seu cliente. Sua função é a de ajudar ao cliente a viver da melhor forma possível a sua humanidade.
Uma outra coisa que acabou acontecendo com a chegada do mundo oriental no ocidente é que o conhecimento veio fragmentado.
Os orientais sabiamente desenvolveram estruturas filosóficas, corpos de conhecimento, onde o discípulo trabalhava e exercitava todas as dimensões do seu ser – corpo/emoções/mente/energia/espírito – com um corpo de técnicas e métodos que envolvia todos os níveis e dimensões do discípulo.
Então, sob a supervisão de um Guru, ele meditava, estudava as escrituras, fazia exercícios psico-fisicos (como Hatha Yoga), se educava em conceitos éticos e morais, exercícios devocionais, etc.
Quando estas culturas chegaram aqui, elas não vieram trazendo toda esta complexidade, todo este corpo de conhecimentos e técnicas, até porque quando uma cultura entra em outra, ela nunca entra inteira, dadas as diferenças (e os impecílios) de ordem geográfica, histórica, cultural, antropológica e sociológica.
Então as técnicas que antes eram realizadas dentro de um conjunto de procedimentos, passaram a serem feitas e exercitadas isoladamente, como, por exemplo, a meditação e o Hatha Yoga, que foram as que mais se notabilizaram aqui.
E na minha opinião, esta fragmentação, aliada à falta do Guru presente, de alguma forma diminuiu e sub utilizou a potência e a eficácia destas técnicas, segundo o objetivo e a efetividade a que elas se propunham quando em seus locais e culturas de origem.
Neste processo inteligente da consciência planetária, onde percebendo a futura eclosão desta expansão, precipita a Psicologia criando a figura do terapeuta, ela pretende que as terapias possam de alguma forma suprir estas lacunas, servindo como auxilio e suporte nos processos de auto conhecimento e de cura psico-emocional.
Achar que a sua religião, ou a sua escola de filosofia ou a sua linha de psicologia, de terapia ou de meditação é a única boa ou é a melhor de todas, é fanatismo. Agora, achar que todas as suas questões existenciais, psico-emocionais e espirituais vão ser resolvidas apenas pela sua religião, pela sua escola de filosofia ou linha de psicologia, de terapia ou de meditação, ou é ingenuidade ou é ignorância.
Não existe panacéia, portanto não existe nenhuma religião, filosofia ou terapia que seja boa para tudo, para todos, o tempo todo. É necessário ter-se a humildade e a coragem (e a consciencia) de aceitar o poder da sinergia, da integração dos caminhos, de buscar ajuda em outras linhas e escolas.

Voltando ao inicio da conversa, e trazendo-a para meu universo particular pessoal e profissional, penso que as terapias são poderosas ferramentas auxiliadoras e complementadoras das práticas de meditação e de Hatha Yoga, ajudando a processar e transmutar mais rapidamente o material psico-emocional em sofrimento e limitação que emerge do inconsciente através destas duas práticas, e consequentemente ajudando a tornar mais efetivos e profundos os efeitos destas práticas, e de forma mais rápida e otimizada.

    II.   Na minha opinião, absolutamente nenhuma religião, linha de psicologia ou de terapia, tradição espiritual, técnica de cura ou escola de filosofia, pode ser boa para todos, para tudo, o tempo todo.

   O que quer dizer que, na minha opinião, qualquer religião ou tradição espiritual, linha de psicologia ou técnica de cura vai - em algum momento, em alguma circunstância e contexto, e para algum caso ou para alguma pessoa - ter contra indicações e/ou efeitos colaterais.

    Ou seja, não existem panaceias.

    Penso que em um universo onde a relatividade é sua característica inerente e constitucional, é impossível qualquer coisa existente ter um valor absoluto.

    E nesta realidade relativa e dual, qualquer coisa pode ser boa ou ruim, certa ou errada, negativa ou positiva, adequada ou inadequada, dependendo em um complexo conjunto de fatores.

    Então... talvez seja interessante que terapeutas, curadores, psicólogos e lideres espirituais tenham a humildade (e a coragem) de reconhecer os limites do caminho que disponibilizam e facilitam para o outro, e que eventualmente recomendem outros tipo de terapias ou de caminhos de cura para seus clientes, pacientes e/ou discípulos.

    Só acredito na sinergia, não acredito em competição nem em “choque de egrégoras”.

     Claro que existem maluquices misturebas picaretas e irresponsáveis por aí, mas acredito que são minorias.

     Mas o que tenho percebido – infelizmente também ainda em minoria - são terapeutas e curadores abertos e responsáveis (e corajosos) que - modéstia à parte, como nós - eventualmente recomendam que seus clientes procurem outras terapias e caminhos de cura mais adequados àquele caso ou àquele momento.

      Não acreditamos (e não nos importamos) em “perder clientes” pois segurar um cliente em uma terapia que não está evoluindo, quem sempre perde é o cliente. Ou seja, para nós, o cliente é mais importante do que ser nosso cliente.

     Assim como acreditamos que os seguidores de religiões não perdem nada quando reconhecem que o caminho que estão trilhando já não oferece alimento integral para suas demandas humanas e espirituais, e resolvem migrar para outra religião ou tradição.

    Ou assim como quando os seguidores de religiões entendem humildemente que às vezes é preciso recorrer paralelamente a outros caminhos – como por exemplo, fazer terapia – para otimizar seu caminho evolutivo.

    E isto em nada macula ou trai sua religião nem tampouco passa um atestado de ineficiência para o caminho espiritual que escolheu trilhar.

   Assim como quando um terapeuta recomenda a seu cliente outro tipo de terapia, não está atestando que sua técnica é ineficiente ou inferior.

   Coragem e humildade são dois ingredientes fundamentais para se crescer e se expandir.




      


MINHA HUMANA ESPIRITUALIDADE

I. Minha espiritualidade não está vinculada específicamente a nenhuma religião, tradição espiritual, seita ou escola filosófica ou psicológica.

Minha espiritualidade não está vinculada a nenhum Mestre, Guru, Guia ou Santo em especial.

Minha espiritualidade não está vinculada a nenhum ritual ou cerimônia religiosa.

Minha espiritualidade não privilegia nenhuma cultura, escritura sagrada nem nenhum tipo de musica sagrada em especial.

Minha espiritualidade não está vinculada a roupas, adereços e objetos religiosos de nenhuma cultura.

Minha espiritualidade também não critica, não desrespeita, não julga e nem discrimina quem está vinculado ao que citei acima.

Minha espiritualidade aceita como igualmente verdadeiras e sagradas todas as culturas, todas as religiões, tradições, Mestres, Gurus, escrituras sagradas, rituais e cerimônias.

Minha espiritualidade é a da pessoa comum, simples e humana, que como filha do Universo caminha rumo a Si.

II. Eu devo ser muito panteísta mesmo pois acho surreal esse papo de se Deus existe ou não . Esse "existir" que se pretende crer ou não, me remete sempre a acreditar em alguém que não vejo e não conheço porque está em algum lugar longe e desconhecido, que pune e recompensa, e que só vou ver e conhecer se seguir certas regras.

O fato é que eu olho pra fora e vejo a existência de Deus, olho pra dentro e vejo a existência de Deus. Simplesmente porque tudo existe. É quase lógico.
Penso que só me falta experienciar Deus como sendo Eu mesmo, porque no meu entender (e no meu sentir e no meu intuir) Deus é absolutamente tudo - corpo e mente, matéria e espírito, bem e mal, certo e errado, tempo e espaço, vida e morte.

Mas Deus é, para mim, principalmente, a Consciência e a Inteligência subjacentes a absolutamente tudo no Universo.

Consciência essa que em função de eu ainda trazer um inconsciente cheio de pendências e questões não resolvidas, equilibradas e integradas, ainda não consigo experienciar como sendo eu mesmo.

Entre quem EU SOU e como eu ainda humanamente estou, existe muito passado a ser curado.

E isso, na minha opinião, não tem nada a ver com existir ou não - já que a existência é óbvia - mas tem a ver com experienciar-se Um com toda a Vida.

E não acho que eu precise ter a fé cega que aprendemos que devemos ter.. Acho que eu apenas preciso ter olhos para ver, inteligencia para entender, sensibilidade para sentir e intuição para perceber, e é assim que eu forjo a minha fé.


quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

MACONHA: PLANTA SAGRADA, RECREATIVA OU VÍCIO ?


Já tem um tempo que ando querendo compartilhar as minhas reflexões sobre a adorada/odiada erva, em função do movimento que venho observando em relação à sua legalização.


Antes de expor minhas opiniões, gostaria de dizer que estas ideias são fruto dos meus 61 anos de vida, 40 anos como estudioso, pesquisador e praticante da espiritualidade, um bom tempo como usuário de cannabis, algum tempo como ex-usuário e 20 anos como terapeuta.


Nada disso me confere – nem eu pretendo – ser conclusivo nem portador da verdade, mas acho que minha vivência e experiência me confere algum conhecimento de causa e alguma isenção para poder refletir sem estar necessáriamente falando só besteira.


Também não pretendo aqui defender nenhuma posição, nem pró nem contra nada, apenas refletir e questionar.


A primeira coisa que me chamou à atenção foi a polarização que parece ter se criado: de um lado os setores que colocam a erva no mesmo saco que as outras drogas e demonizam tudo exorcizando qualquer possibilidade de diálogo, e muito menos, de liberação.


Por outro lado, a galera do “grow room” que parece panfletar sua causa se escondendo atrás das vantagens medicinais da planta (que certamente existem e está comprovado).


Essa - me perdoe a galera engajada - hipocrisia, me incomodou mais do que os xiliques xiitas dos caretas histéricos e cannabinofóbicos.


Eu sempre achei que o mais honesto é que o pessoal usuário fizesse sua campanha pela liberação advogando explícita e abertamente o uso recreativo, como acontece com o uso do álcool.


Bem, mas minha reflexão vai mais além.


A partir do meu know-how (que coloquei acima, e que, repito, não pretende ser conclusivo ou dono da verdade), eu percebo que existem 3 formas – ou 3 motivadores – de se usar a planta (estou excluindo aqui o uso medicinal):


1. O uso sagrado:
Realmente a cannabis sativa (e a indica) é uma planta sagrada em várias culturas, como por exemplo, na India e na África. Mas até onde eu saiba, o uso sagrado de plantas que alteram o estado de consciência, é restrito a cerimônias e rituais (ou a settings terapêuticos) para fins de cura e de expansão da consciência. E isso configura um uso esporádico. Ninguém faz cerimônias e rituais todo dia. E com certeza uma cannabis cheia de agrotóxicos e de energia de crime, como a que é vendida pelo tráfico, não se prestaria a trabalhos espirituais e terapêuticos.
No próprio âmbito das plantas sagradas, das plantas de poder, como o ayahuasca, já vi muita gente usando a planta no dia-a-dia fora do contexto ritual, numa explícita "troca de droga", tipo "não cheiro mais cocaína, não bebo mais, mas encho a cara dessa planta porque ela é sagrada, então tudo bem".


2. Uso recreativo:
Como o nome diz, uso recreativo é quando se usa alguma substância alteradora da consciência em situações de lazer. Tipo fumar um para ir a um show ou a uma festa, por exemplo, como muita gente faz com as bebidas. Isso também configura um uso esporádico. Ninguém vai à festa e show todo dia nem está o tempo todo de férias. E o termo uso recreativo também não significa que representa necessáriamente um conceito totalmente inócuo, pois muita gente se tornou alcoólatra (ou viciado em cocaína) a partir do uso recreativo. E o uso diário de qualquer substância com alcalóides de alguma forma, em algum tempo, traz danos à saúde.


3. Dependência química:
Como toda substância que possui alcalóides, a cannabis promove alguma dependência. Provavelmente não física, mas com certeza psicológica. E esta muitas vezes é mais difícil de tratar e curar do que a física, a exemplo da cocaína e do tabaco que produzem uma profunda dependência psicológica (além de produzirem ao longo de muito tempo de uso, também dependência física).
Como grande parte dos usuários de cannabis são usuários diários, podemos ver que este tipo de uso não se encaixa nem em uso sagrado nem em uso recreativo.
O uso diário de substâncias que alteram o estado de consciência (e não importa se é cannabis, tabaco, álcool ou cocaína) vem geralmente atender, não à expansão da consciência ou a cura, mas à fuga e a anestesia de sofrimentos da mente e da alma.
Ninguém altera constantemente (e impunemente) seu estado de consciência por razão nenhuma, ou apenas para se recrear.
Ignorar este fato é desconhecer o básico do funcionamento do ser humano, da sua psique e da sua espiritualidade.
E me parece que enquanto não se tiver coragem de encarar, expor e questionar abertamente esse fato, vai-se continuar sem se conseguir acessar que dores são essas que fazem com que se precise usar constantemente substâncias inebriantes para se anestesiar, para amenizar a dor. E obviamente, enquanto se anestesia, não se cura.


Enquanto uma substância funcionar como muleta para se sobreviver sem sofrer (e muitas vezes isso é sutil ou inconsciente), ou para se ser mais criativo ou produtivo (você consegue apreciar a natureza, ouvir musica, fazer amor, pintar, compor, sem fumar?) a verdadeira liberdade não é possível.


É mais rápido (e mais volátil) produzir o efeito de fumar um baseado do que conquistar, por exemplo, os resultados da meditação ou das terapias.


E vai se continuar a gastar muito neurônio e muita saliva para se continuar tecendo e expondo a tão conhecida teia de argumentações no sentido de convencer aos outros (e a si mesmo) que tudo bem fumar todo o dia, porque afinal de contas, maconha faz menos mal do que cigarro e bebida e é melhor do que tarja preta...


É importante salientar também que o conceito do que seja “droga” pode ser extendido a muitas atividades consideradas saudáveis, quando elas se tornam instrumentos de anestesia e compulsão.


Hoje, por exemplo, temos instituições tipo AA para comedores compulsivos, sexólatras, malhadores de academia, usuários de games e informática, etc.


Então, legalizar sim. Mas com coragem, honestidade e humildade para se olhar para a sua própria sombra. Só assim a cura e o crescimento acontecem.