MEDITAÇÃO E TERAPIAS. CORAGEM E HUMILDADE.
I.
Me parece – como
resultado parcial da minha reflexão em função de 40 anos de buscador e quase 20
de terapeuta – que a espinha dorsal, o foco central de qualquer processo de
auto conhecimento e de cura deveria ser a meditação.
Quase todas as culturas antigas
parecem corroborar este fato.
E quase todas estas culturas
desenvolveram técnicas e métodos não só de meditação como também de práticas
acessórias que vão dar suporte e complementar este exercício.
E o que me parece mágico é que
meditação, como técnica, é a coisa mais simples que existe, oferecida para se
resolver a mais complexa – a questão do equacionamento do sofrimento e das
limitações humanas, e a re-experienciação de quem realmente se É.
Então eu queria aqui refletir
sobre o processo da meditação como um todo, em seu aspecto mais amplo.
E vou focar aqui nas culturas
orientais, que são as que conheço melhor.
Percebo que todas estas
culturas desenvolveram, não só variadas técnicas de meditação, como também de
práticas e exercícios que tem a função de complementar, elaborar, e expandir
para todo o complexo humano, os benefícios auferidos com a prática da
meditação.
Estas antigas culturas
percebendo a complexidade do ser humano, não só desenvolveram estruturas de
conhecimento e de técnicas que se propõe a trabalhar toda a dimensão do ser
humano, mas também abordando o trabalho sempre do interior para o exterior e do
exterior para o interior.
Assim, vemos por exemplo, no
Yoga, como todas as abordagens – Jñana, Bhakti, Karma, Raja, Hatha – contém em
si todas elas.
Impossivel, por exemplo, Karma Yoga sem Bhakti, sem Jñana, sem meditação, sem trabalhar a dimensão psico-física, e por aí vai, numa compreensão milenar da natureza holística e sistêmica do ser humano.
Impossivel, por exemplo, Karma Yoga sem Bhakti, sem Jñana, sem meditação, sem trabalhar a dimensão psico-física, e por aí vai, numa compreensão milenar da natureza holística e sistêmica do ser humano.
Uma outra característica
fundamental das culturas orientais é a presença de um Guru, de um Mestre
espiritual.
Desta forma, o Guru pode
desempenhar quatro funções na vida de um discípulo:
- Oferecer sua Luz, seu Amor,
sua Paz, sua Energia
- Oferecer seu conhecimento e sabedoria
- Oferecer seu exemplo de vida
- Oferecer sua companhia física no dia-a-dia do aprendizado do discípulo.
- Oferecer seu conhecimento e sabedoria
- Oferecer seu exemplo de vida
- Oferecer sua companhia física no dia-a-dia do aprendizado do discípulo.
Para se beneficiar dos três
primeiros quesitos não é necessário que o Guru esteja vivo. Todos os devotos de
seres iluminados como Ramana Maharshi, Ramakrishna, Nisargadatta, Yogananda, entre
outros, recebem a Luz, os conhecimentos e o exemplo de vida de seus Mestres sem
precisar te-los conhecido pessoalmente.
Mas tem o quarto quesito, onde
o Guru funcionava como uma espécie de terapeuta, ajudando ao discípulo à
compreender, elaborar, transmutar todo o material psico-emocional-energético
que era liberado através das práticas de meditação, dos estudos, das práticas
devocionais, das práticas psico-físicas.
Quando, lá pelos idos dos anos
60 e 70, a cultura oriental “invadiu” o ocidente, vieram os livros, vieram as
técnicas, a culinária, as músicas, mas vieram pouquíssimos Gurus, e muito pouca
gente pode se beneficiar do dia-a-dia com um Mestre ao seu lado dando suporte
às práticas, aos obstáculos e aos resultados delas.
E aí, na minha “viagem na
maionese” eu penso que a consciência planetária vendo isso, e vendo que o
ocidente ia acordar para o acesso a dimensões e níveis de realidade bem mais
amplas e profundas de si e da vida, e percebendo que a figura do Guru não faz
parte da realidade ocidental, precipitou a figura do terapeuta.
Inicialmente através da Psicologia e da Psicanálise, e depois das terapias em geral.
Inicialmente através da Psicologia e da Psicanálise, e depois das terapias em geral.
O terapeuta viria cobrir a
lacuna da quarta função do Guru, a de facilitar o acompanhamento e o suporte de
um dia-a-dia no exercício de técnicas e métodos de auto cura e de auto
conhecimento.
A diferença é que o Guru é um
ser iluminado capaz de enxergar a profundidade da mente e da alma de seu
discípulo. Sua função maior é levar o discípulo à iluminação, à experienciação
de quem ele realmente É.
O terapeuta é um técnico, que
aprendeu um método - e que se submete também a ele - e que está habilitado a
dar suporte terapêutico no decorrer da jornada de seu cliente. Sua função é a
de ajudar ao cliente a viver da melhor forma possível a sua humanidade.
Uma outra coisa que acabou
acontecendo com a chegada do mundo oriental no ocidente é que o conhecimento
veio fragmentado.
Os orientais sabiamente
desenvolveram estruturas filosóficas, corpos de conhecimento, onde o discípulo
trabalhava e exercitava todas as dimensões do seu ser –
corpo/emoções/mente/energia/espírito – com um corpo de técnicas e métodos que
envolvia todos os níveis e dimensões do discípulo.
Então, sob a supervisão de um
Guru, ele meditava, estudava as escrituras, fazia exercícios psico-fisicos
(como Hatha Yoga), se educava em conceitos éticos e morais, exercícios
devocionais, etc.
Quando estas culturas chegaram
aqui, elas não vieram trazendo toda esta complexidade, todo este corpo de
conhecimentos e técnicas, até porque quando uma cultura entra em outra, ela
nunca entra inteira, dadas as diferenças (e os impecílios) de ordem geográfica,
histórica, cultural, antropológica e sociológica.
Então as técnicas que antes
eram realizadas dentro de um conjunto de procedimentos, passaram a serem feitas
e exercitadas isoladamente, como, por exemplo, a meditação e o Hatha Yoga, que
foram as que mais se notabilizaram aqui.
E na minha opinião, esta
fragmentação, aliada à falta do Guru presente, de alguma forma diminuiu e sub
utilizou a potência e a eficácia destas técnicas, segundo o objetivo e a
efetividade a que elas se propunham quando em seus locais e culturas de origem.
Neste processo inteligente da
consciência planetária, onde percebendo a futura eclosão desta expansão,
precipita a Psicologia criando a figura do terapeuta, ela pretende que as
terapias possam de alguma forma suprir estas lacunas, servindo como auxilio e
suporte nos processos de auto conhecimento e de cura psico-emocional.
Achar que a
sua religião, ou a sua escola de filosofia ou a sua linha de psicologia, de
terapia ou de meditação é a única boa ou é a melhor de todas, é fanatismo.
Agora, achar que todas as suas questões existenciais, psico-emocionais e
espirituais vão ser resolvidas apenas pela sua religião, pela sua escola de
filosofia ou linha de psicologia, de terapia ou de meditação, ou é ingenuidade
ou é ignorância.
Não existe
panacéia, portanto não existe nenhuma religião, filosofia ou terapia que seja
boa para tudo, para todos, o tempo todo. É necessário ter-se a humildade e a
coragem (e a consciencia) de aceitar o poder da sinergia, da integração dos
caminhos, de buscar ajuda em outras linhas e escolas.
Voltando ao inicio da conversa,
e trazendo-a para meu universo particular pessoal e profissional, penso que as
terapias são poderosas ferramentas auxiliadoras e complementadoras das práticas
de meditação e de Hatha Yoga, ajudando a processar e transmutar mais
rapidamente o material psico-emocional em sofrimento e limitação que emerge do
inconsciente através destas duas práticas, e consequentemente ajudando a tornar
mais efetivos e profundos os efeitos destas práticas, e de forma mais rápida e otimizada.
II.
Na minha opinião, absolutamente nenhuma religião, linha de psicologia ou
de terapia, tradição espiritual, técnica de cura ou escola de filosofia, pode
ser boa para todos, para tudo, o tempo todo.
O que quer dizer que, na minha opinião,
qualquer religião ou tradição espiritual, linha de psicologia ou técnica de
cura vai - em algum momento, em alguma circunstância e contexto, e para algum
caso ou para alguma pessoa - ter contra indicações e/ou efeitos colaterais.
Ou seja, não existem panaceias.
Penso que em um universo onde a
relatividade é sua característica inerente e constitucional, é impossível
qualquer coisa existente ter um valor absoluto.
E nesta realidade relativa e dual, qualquer
coisa pode ser boa ou ruim, certa ou errada, negativa ou positiva, adequada ou
inadequada, dependendo em um complexo conjunto de fatores.
Então... talvez seja interessante que
terapeutas, curadores, psicólogos e lideres espirituais tenham a humildade (e a
coragem) de reconhecer os limites do caminho que disponibilizam e facilitam
para o outro, e que eventualmente recomendem outros tipo de terapias ou de
caminhos de cura para seus clientes, pacientes e/ou discípulos.
Só acredito na sinergia, não acredito em
competição nem em “choque de egrégoras”.
Claro que existem maluquices misturebas
picaretas e irresponsáveis por aí, mas acredito que são minorias.
Mas o que tenho percebido – infelizmente
também ainda em minoria - são terapeutas e curadores abertos e responsáveis (e
corajosos) que - modéstia à parte, como nós - eventualmente recomendam que seus
clientes procurem outras terapias e caminhos de cura mais adequados àquele caso
ou àquele momento.
Não acreditamos (e não nos importamos) em
“perder clientes” pois segurar um cliente em uma terapia que não está
evoluindo, quem sempre perde é o cliente. Ou seja, para nós, o cliente é mais
importante do que ser nosso cliente.
Assim como acreditamos que os seguidores
de religiões não perdem nada quando reconhecem que o caminho que estão
trilhando já não oferece alimento integral para suas demandas humanas e
espirituais, e resolvem migrar para outra religião ou tradição.
Ou assim como quando os seguidores de
religiões entendem humildemente que às vezes é preciso recorrer paralelamente a
outros caminhos – como por exemplo, fazer terapia – para otimizar seu caminho
evolutivo.
E isto em nada macula ou trai sua religião
nem tampouco passa um atestado de ineficiência para o caminho espiritual que
escolheu trilhar.
Assim como quando um terapeuta recomenda a
seu cliente outro tipo de terapia, não está atestando que sua técnica é
ineficiente ou inferior.
Coragem e humildade são dois ingredientes
fundamentais para se crescer e se expandir.
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