sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

SOBRE ATEUS E AGNÓSTICOS

Tive contato com muitos ateus e agnósticos ao longo da minha vida.
Principalmente com comunistas, médicos e psicanalistas ateus.

Eu também concordo, em certa medida, que a religião é o ópio do povo.

Mas sempre me chamou a atenção o fato de que praticamente 100% dos ateus que conheci, independente da origem do seu ateísmo, eram ateus basicamente em função da concepção teológica vigente em nossa cultura ocidental, que prega um Deus pessoal, machista e vingativo, que ainda por cima tem um anjo caído como inimigo constante, e que diz que se você seguir o book direitinho e resistir ao inimigo, vai para o Paraíso, mas se não andar na linha vai arder eternamente.

Isso é o que nos é apresentado pelas igrejas cristãs, judaica e mulçumana, todas fundamentadas no chamado Velho testamento.

Como entrei muito cedo em contato com o universo da filosofia e das religiões orientais (e posteriormente com o universo das culturas nativas), desde bem cedo acessei outras concepções a respeito do que - ou de quem - seria o que chamamos de Deus.

E como não sou exatamente uma pessoa mística nem religiosa e nem pertenço a nenhuma instituição ou organização nesta área, sempre transitei pelo universo das religiões e do esoterismo com muita autonomia, independência e liberdade.

Então pude, por diversas vezes, passar pela interessante experiência de explanar - mas sem a intenção de doutrinar ou de tentar convencer - para um ateu algumas concepções diferentes de quem poderia ser Deus (por exemplo, as concepções vedântica, taoista e budista, e que são em sua essência, bastante parecidas) e quase sempre ouvia a seguinte frase: “Se Deus for assim eu até acredito”!

Interessante como a concepção vigente de fé exclui a inteligência e o raciocínio.

E é interessante também como a alternativa para quem não se afina com as concepções teológicas e filosóficas da Igreja, acaba sendo a Ciência, que também só é atéia em função dos conceitos preconizados pelas religiões vigentes.
E isso deu margem a que se implantasse em nossa cultura um pensamento cartesiano e mecanicista, polarizado entre Religião X Ciência.

A Física Quântica é um bom exemplo da aproximação da Ciência com o que tem sido até agora abordado sob uma ótica mística e religiosa.

A grande parte dos conceitos da Física Quântica (assim como da moderna Psicologia) já eram conhecidos – dentro, óbviamente de outros parâmetros – pelas culturas antigas.

Alguns dos pais da Fisica Quântica, como W.Heisenberg e Niels Bohr, eram muito interessados e estudiosos dos conhecimentos orientais, especialmente da India.

Bohr, por exemplo, dava conferências sobre as escrituras hindus e Heisenberg visitava a India.

E pessoas como Maharishi Mahesh Yogi, Fritjof Capra, Ken Wilber, Amit Goswami e Deepak Chopra também sabem disso e ajudam a consolidar esta ponte.

Talvez em breve não seja mais necessária a separação entre espiritual e material, religioso e mundano, natural e sobrenatural.

Provavelmente estas polarizações aconteceram em função da simples ignorância das leis universais. 

Talvez possamos agora entender que tudo é natural no Universo. Não há sobrenatural.

Tudo o que até hoje tem sido abordado segundo uma ótica religiosa e mística, pode também ser visto sob uma outra ótica, que poderíamos chamar aqui de vários nomes : holística, quântica, sistêmica...

Me parece que o conceito de sagrado não precisa mais estar necessáriamente atrelado ao ambiente religioso.

Sempre que me deparo com alguém agnóstico nas consultas ou nos cursos, me lembro de um amigo que dizia: “Imagina você explicar para um cara da Idade Média sobre alguém conversando (e com imagem) em tempo real com outra pessoa do outro lado do mundo em um IPad! Dava fogueira na certa ! “

Uma caixinha de plástico (aliás só tentar explicar plástico já daria fogueira) que fala e vê do outro lado do planeta só pode ser magia negra! 
Porque a internet e a telefonia celular, por exemplo, seriam menos fantásticas e mais reais do que a mediunidade, a telepatia, a reencarnação, etc,etc???”

É só porque sobre a caixinha que fala e vê, a nossa Ciência atéia descobriu as leis que regem os seus processos e aprendeu a capitalizar-las e a instrumentaliza-las.

No que se refere ao que ainda se considera do domínio do religioso, do oculto, do místico e do esotérico, não há ainda por parte da ciência ocidental um respeito e um reconhecimento da autoridade das culturas antigas – como as da India, da China, do Egito, das África, dos índios - que descobriram, sistematizaram e operacionalizaram outras tantas leis universais, mas sob outros paradigmas e utilizando outros parametros de investigação e de instrumentalização.

Talvez um dia a palavra religião (que vem de religare = religar) não esteja mais atrelada à idéia de religião institucional.

E vou confessar : em relação a este Deus - pessoal, barbado, que mora nas nuvens, que joga raios, que pune e recompensa, e que tem seu povo eleito - tipo o Allah dos mulçumanos e o Jeovah dos judeus e cristãos, eu também sou ateu !

ERNANI FORNARI

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