A PESSOA HUMANA E O MITO
Essa recente polemica feicebuquiana em torno da morte do Fidel -
e que tem sucitado as tradicionalmente acirradas (e frequentemente raivosas)
discussões sobre se ele foi bacana ou se foi um monstro - além de me mostrar a
dificuldade que a maioria das pessoas tem de, além de terem suas opiniões e
convicções pessoais, também terem um olhar mais isento e panorâmico (já fui até
gozado por causa disso) para poderem apreender uma perspectiva histórica mais
correta de uma forma mais neutra, sem muitas emocionalidades, também me sucitou
uma reflexão sobre o Mito.
Todo mundo que alcança uma grande popularidade e que faz uma
grande diferença no coletivo, acaba “ganhando” uma outra persona –
antropológica, sociológica e psicológicamente falando : uma personalidade
mítica, quase arquetípica.
E esta personalidade ganha no coletivo um significado e um simbolismo
que não necessáriamente é totalmente coerente com a pessoa física original em
seu aspectos humanos pessoal, doméstico, profissional, psicológico. As vezes é
até bem paradoxal.
Este Mito, como grande ídolos, vem representar e inspirar no
imaginário coletivo, ideais, posições ideológicas e filosóficas, crenças,
esperanças, e vem frequentemente catalizar posturas, atitudes e movimentos.
E assim temos os nossos mitos e também os nossos anti-mitos.
Todos, diga-se de passagem, sem uma unanimidade que traduza uma conclusão
comum. Todos. Todos com luz e sombra, todos com defeitos e qualidades, com bons
e maus feitos, com erros e acertos.
Vamos lembrar então – além do citado Fidel - de Guevara (que era
homofóbico e racista), Hitler (que se por um lado fez o que fez, por outro
transformou uma Alemanha detonada em uma das maiores potencias da época), Marx
(que era um péssimo pai de família e não era lá muito dado ao batente, e que
inspirou um sistema que efetivamente nunca foi implantado no planeta da forma
como ele bolou), Stalin e Mao (por que será que Stalin e Mao que mataram tanto
ou mais gente que Hitler não são mitos tão negativos como o nazista?), Gandhi
(que além de sua atuação politica ter gerado, com a independência, a divisão da
India e com ela um massacre sem precedentes, era um pai ausente e teve um filho
alcoólatra), Madre Tereza (que tem sobre ela muitas suspeitas de coisas bem
feias), Freud (que era super vaidoso, centralizador e rancoroso, e que teve uma
história doméstica cheia de questões), John Lennon (que teve séria depressão e
sérios problemas com drogas) e por aí vai...
Então vemos que por um lado
temos pessoas humanas, que como todos os humanos tiveram seus defeitos, erros,
imperfeições, falhas, mas que por sua importância se transformaram em mitos que
transcendem quem eles foram como pessoas físicas e porisso passam a simbolizar
não aquilo que foram em suas dicotomias e incongruências humanas, mas que
passam a simbolizar emblemáticamente causas, ideais, sonhos, muito maiores que
eles mesmos, como se uma “pessoa física” passasse a funcionar como “pessoa
jurídica” no inconsciente coletivo.
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