quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

SOBRE MEDITAÇÃO E TERAPIAS

MEDITAÇÃO E TERAPIAS


Me parece – como resultado parcial da minha reflexão em função de 40 anos de buscador e quase 20 de terapeuta – que a espinha dorsal, o foco central de qualquer processo de auto conhecimento e de cura deveria ser a meditação.
Quase todas as culturas antigas parecem corroborar este fato.
E quase todas estas culturas desenvolveram técnicas e métodos não só de meditação como também de práticas acessórias que vão dar suporte e complementar este exercício.
E o que me parece mágico é que meditação, como técnica, é a coisa mais simples que existe, oferecida para se resolver a mais complexa – a questão do equacionamento do sofrimento e das limitações humanas, e a re-experienciação de quem realmente se É.
Então eu queria aqui refletir sobre o processo da meditação como um todo, em seu aspecto mais amplo.
E vou focar aqui nas culturas orientais, que são as que conheço melhor.
Percebo que todas estas culturas desenvolveram, não só variadas técnicas de meditação, como também de práticas e exercícios que tem a função de complementar, elaborar, e expandir para todo o complexo humano, os benefícios auferidos com a prática da meditação.
Estas antigas culturas percebendo a complexidade do ser humano, não só desenvolveram estruturas de conhecimento e de técnicas que se propõe a trabalhar toda a dimensão do ser humano, mas também abordando o trabalho sempre do interior para o exterior e do exterior para o interior.
Assim, vemos por exemplo, no Yoga, como todas as abordagens – Jñana, Bhakti, Karma, Raja, Hatha – contém em si todas elas. 
Impossivel, por exemplo, Karma Yoga sem Bhakti, sem Jñana, sem meditação, sem trabalhar a dimensão psico-física, e por aí vai, numa compreensão milenar da natureza holística e sistêmica do ser humano.
Uma outra característica fundamental das culturas orientais é a presença de um Guru, de um Mestre espiritual.
Desta forma, o Guru pode desempenhar quatro funções na vida de um discípulo:
- Oferecer sua Luz, seu Amor, sua Paz, sua Energia
- Oferecer seu conhecimento e sabedoria
- Oferecer seu exemplo de vida
- Oferecer sua companhia física no dia-a-dia do aprendizado do discípulo.
Para se beneficiar dos três primeiros quesitos não é necessário que o Guru esteja vivo. Todos os devotos de seres iluminados como Ramana Maharshi, Ramakrishna, Nisargadatta, Yogananda, entre outros, recebem a Luz, os conhecimentos e o exemplo de vida de seus Mestres sem precisar te-los conhecido pessoalmente.
Mas tem o quarto quesito, onde o Guru funcionava como uma espécie de terapeuta, ajudando ao discípulo à compreender, elaborar, transmutar todo o material psico-emocional-energético que era liberado através das práticas de meditação, dos estudos, das práticas devocionais, das práticas psico-físicas.
Quando, lá pelos idos dos anos 60 e 70, a cultura oriental “invadiu” o ocidente, vieram os livros, vieram as técnicas, a culinária, as músicas, mas vieram pouquíssimos Gurus, e muito pouca gente pode se beneficiar do dia-a-dia com um Mestre ao seu lado dando suporte às práticas, aos obstáculos e aos resultados delas.
E aí, na minha “viagem na maionese” eu penso que a consciência planetária vendo isso, e vendo que o ocidente ia acordar para o acesso a dimensões e níveis de realidade bem mais amplas e profundas de si e da vida, e percebendo que a figura do Guru não faz parte da realidade ocidental, precipitou a figura do terapeuta.
Inicialmente através da Psicologia e da Psicanálise, e depois das terapias em geral.
O terapeuta viria cobrir a lacuna da quarta função do Guru, a de facilitar o acompanhamento e o suporte de um dia-a-dia no exercício de técnicas e métodos de auto cura e de auto conhecimento.
A diferença é que o Guru é um ser iluminado capaz de enxergar a profundidade da mente e da alma de seu discípulo. Sua função maior é levar o discípulo à iluminação, à experienciação de quem ele realmente É.
O terapeuta é um técnico, que aprendeu um método - e que se submete também a ele - e que está habilitado a dar suporte terapêutico no decorrer da jornada de seu cliente. Sua função é a de ajudar ao cliente a viver da melhor forma possível a sua humanidade.
Uma outra coisa que acabou acontecendo com a chegada do mundo oriental no ocidente é que o conhecimento veio fragmentado.
Os orientais sabiamente desenvolveram estruturas filosóficas, corpos de conhecimento, onde o discípulo trabalhava e exercitava todas as dimensões do seu ser – corpo/emoções/mente/energia/espírito – com um corpo de técnicas e métodos que envolvia todos os níveis e dimensões do discípulo.
Então, sob a supervisão de um Guru, ele meditava, estudava as escrituras, fazia exercícios psico-fisicos (como Hatha Yoga), se educava em conceitos éticos e morais, exercícios devocionais, etc.
Quando estas culturas chegaram aqui, elas não vieram trazendo toda esta complexidade, todo este corpo de conhecimentos e técnicas, até porque quando uma cultura entra em outra, ela nunca entra inteira, dadas as diferenças (e os impecílios) de ordem geográfica, histórica, cultural, antropológica e sociológica.
Então as técnicas que antes eram realizadas dentro de um conjunto de procedimentos, passaram a serem feitas e exercitadas isoladamente, como, por exemplo, a meditação e o Hatha Yoga, que foram as que mais se notabilizaram aqui.
E na minha opinião, esta fragmentação, aliada à falta do Guru presente, de alguma forma diminuiu e sub utilizou a potência e a eficácia destas técnicas, segundo o objetivo e a efetividade a que elas se propunham quando em seus locais e culturas de origem.
Neste processo inteligente da consciência planetária, onde percebendo a futura eclosão desta expansão, precipita a Psicologia criando a figura do terapeuta, ela pretende que as terapias possam de alguma forma suprir estas lacunas, servindo como auxilio e suporte nos processos de auto conhecimento e de cura psico-emocional.
Voltando ao inicio da conversa, e trazendo-a para meu universo particular pessoal e profissional, penso que as terapias são poderosas ferramentas auxiliadoras e complementadoras das práticas de meditação e de Hatha Yoga, ajudando a processar e transmutar mais rapidamente o material psico-emocional em sofrimento e limitação que emerge do inconsciente através destas duas práticas, e consequentemente ajudando a tornar mais efetivos e profundos os efeitos destas práticas, e de forma mais rápida e otimizada.


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