quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

SOBRE NÃO VOTAR

SOBRE NÃO VOTAR
Tem gente que acha que muitas pessoas espiritualistas ou terapeutas que por terem um olhar sistêmico e holístico sobre a vida - e porisso eventualmente escolherem estarem mais neutras e isentas em relação à política e às eleições - são por isso pessoas alienadas e desconectadas da vida material objetiva e concreta. Vou então oferecer algumas reflexões e possibilidades, sem a pretensão de ser dono da verdade, nem de querer convencer ninguém:
1.    Estudar História (até mesmo de um passado bem recente) é uma boa forma de ver que desde sempre, a dinâmica da política, das eleições e o comportamento dos políticos (e dos partidos) é exatamente o mesmo. Os mesmos discursos e as mesmas promessas dos candidatos de hoje (e o mesmo descumprimento posterior), são os mesmos de 5, 10, 20, 40, 50, 100 anos atrás. Assim como o (mau)comportamento ético e moral dos políticos é o mesmo desde sempre. Eu já tenho 60 anos, já participei, sei lá, de 50 eleições talvez, e prá mim isso fica super nítido e claro. Mas parece que nas épocas de eleições as pessoas são envolvidas por uma nuvem de ilusão que cria uma grande amnésia em relação ao passado. Acho sinceramente que a esperança por dias melhores não precisaria fomentar este tipo de ilusão, e sim, levar à percepção de que deve ter alguma mensagem subjacente (mas gritando) a este antigo e terrível replay da eterna mesma coisa. Esta velha e nefasta recorrência com certeza traz oculta uma importante informação, que acaba ficando não acessada em função da (bem intencionada) auto-enganação coletiva - que sempre se cria no impulso desesperadamente esperançoso de mais uma vez se investir no “menos pior”, no "agora vai", no "esse cara (ou esse partido) vai mudar" - que invariávelmente acomete as pessoas nas épocas de eleição, numa ilusão fantasiosa de que em política realmente existem os "bons" e os "maus", os "certos" e os "errados".
Claro que estou generalizando, mas as excessões são tão poucas, que nunca fizeram alguma diferença realmente relevante. Além do mais, grande parte destes poucos bons, são geralmente sumariamente tragados pelo ralo poderoso do sistema.
2. Um olhar mais amplo e antenado sobre (e sob) o panorama planetário mostra claramente que existe um poder mundial, capitaneado principalmente pelos grandes bancos e pelas corporações transnacionais, que é quem dita as regras políticas e econômicas em todo o mundo, fomentando e mantendo as guerras, a dominação dos povos, a destruição da natureza e a manutenção de uma estrutura política (e partidária) visceralmente corrupta, dominadora e injusta. Prova é, que o capitalismo é o único sistema político/econômico que conseguiu vingar no planeta. E o capitalismo se nutre fundamentalmente de dominação, corrupção e injustiça. Ah, tá legal, já sei que tem gente que vai dizer: “O comunismo foi pior, matou mais gente, instaurou ditaduras terríveis, vejam a Russia, Coreia, China, Cuba, etc”. Ok, vamos então estudar Marx e ver que na verdade nunca existiu um verdadeiro socialismo na Terra, pois o marxismo nunca conseguiu passar da página 1, talvez até porque a natureza humana é fundamentalmente competitiva, egoísta, ambiciosa e hedonista, facilitando enormemente a expansão desse capitalismo tão focado na competição, no individualismo, na desigualdade e no consumismo.
3. Com um pouco de lucidez é fácil perceber que podemos fazer muita coisa pelo planeta e pela Humanidade além de votar e além de se envolver e se identificar com essa maya política como se isso fosse o supra sumo da realidade e como se participar deste tipo de política fosse uma função top de linha do ser humano no que diz respeito à sua atuação social, e como se isto fosse a coisa mais nobre que se pode e que se deve fazer. 
O fato é que podemos fazer muitas outras coisas, muitas mesmo, e talvez ações até bem mais substanciais e reais. E talvez muito mais transformadoras e profundas. Até porque, paradoxalmente, acaba que tudo na vida é política. Então talvez estabelecer e fomentar uma política ética e moralmente correta e justa em outros campos da existência (familia, trabalho, relacionamentos, natureza, etc.), seja uma das formas mais eficientes de se tornar ética e moralmente correta e justa a política partidária e eleitoral.
Dentro destas perspectivas, votar - na real, na real mesmo - só serve para continuar engordando este secular sistema onde a perpetuação dentro dele é a única real preocupação de quem está dentro.
Romantismos à parte (valendo para a esquerda caviar, coxinhas e para os saudosos dos militares), quem é que pode dizer aí quando e aonde (estou me referindo aqui ao terceiro mundo) que eleições, politicos ou partidos – e não me refiro aqui às maquiagens demagógicas de sempre, as obras de cunho eleitoreiro e ao assistencialismo clientelista que políticos e partidos são experts em operacionalizar para ganhar votos - efetivamente e substancialmente mudaram alguma coisa em níveis amplos e profundos na sociedade???
Continuo, portanto, acreditando piamente no velho jargão que diz que ninguém (nem direita nem esquerda) equaciona e promove efetivamente (estou dizendo EFETIVAMENTE) a saúde e a educação, porque ninguém controla e manipula um povo inteligente, culto e saudável. E a nenhum sistema ou regime interessa este tipo de povo.
4. Espiritualistas e terapeutas sabem muito bem (não por serem superiores ou mais evoluídos como pretendem estigmarizar os críticos) que o externo é reflexo do interno e que a qualidade da realidade que vivemos é um produto da qualidade espiritual/psicológica/emocional do ser humano. É uma resultante do nivel evolutivo do homem. E achar que mudando o externo sem mudar o interno vai se mudar realmente alguma coisa, é quase infantil.
E esta talvez seja a mensagem oculta que se esconde (mas que fica insistentemente sinalizando) por trás do famigerado looping que há séculos ressussita de 4 em 4 anos fazendo com que nossa esperança e nosso desespero por mudanças percam a lucidez e o discernimento e embarquem mais uma vez na ilusão do "agora vai", fomentando mais uma vez o equivoco de que mudando políticos, partidos ou sistemas de governo, dessa vez a vida vai melhorar.
Portanto, enquanto a politica for a mesma velha disputa de quadrilhas, meu voto é nulo. E quem me conhece sabe que estou longe de ser alienado ou desinformado, e sabe também que eu faço bem a minha parte.
E a propósito: o que me dá o direito de reclamar e protestar e o que me dá o status de cidadão não é votar. É ser contribuinte.


Nenhum comentário:

Postar um comentário